Esse foi o 4º mês consecutivo de desaceleração do índice de preços do país. Bandeira da Argentina
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A inflação da Argentina ficou em 8,8% em abril, apontou o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) divulgado nesta terça-feira (14) pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) do país. Com o resultado, o aumento dos preços chegou a 289,4% em 12 meses.
Esse foi o quarto mês consecutivo de desaceleração e o primeiro índice de um dígito em um semestre. O dado foi comemorado como "uma goleada" pelo presidente ultraliberal Javier Milei, embora economistas alertem que isso corresponde à queda do consumo.
O setor de maior aumento em abril foi habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis (35,6%), devido à suspensão dos subsídios e aos aumentos das tarifas.
Na sequência, ficaram comunicação (14,2%), pelos aumentos nos serviços de telefonia e internet, e vestuários e calçados (9,6%), pela mudança de temporada.
As duas seções que registraram os menores aumentos foram alimentos e bebidas (6%), bens e serviços (5,7%) e bebidas alcoólicas e tabaco (5,5%).
"Estamos goleando a inflação", comemorou Milei nesta terça, pouco antes da divulgação do primeiro registro de um dígito mensal desde outubro do ano passado, quando a inflação ficou em 8,3%.
O presidente impulsiona uma ambiciosa desregulação da economia com o objetivo de alcançar o "déficit zero" para o fim do ano.
A Argentina vive uma forte recessão econômica e um ajuste fiscal que permitiu, no primeiro trimestre do ano, o primeiro superávit desde 2008.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) parabenizou o governo Milei por exceder suas metas e anunciou, na segunda-feira (13), um acordo que permite o desembolso de quase US$ 800 milhões (R$ 4,1 bilhão).
A organização multilateral destacou o "primeiro superávit fiscal trimestral em 16 anos, a rápida queda da inflação, a mudança de tendência das reservas internacionais e uma forte redução do risco soberano".
Contudo, especialistas alertam que o superávit foi conseguido com cortes de gastos que não são sustentáveis no tempo: milhares de demissões, paralisação de obras públicas e deterioração de salários e aposentadorias em um país com a metade de seus 47 milhões de habitantes na pobreza.
Recuo do consumo
"O superávit fiscal foi alcançado com cortes nos gastos, não por maiores receitas fiscais. A inflação cai por uma queda na demanda, não por uma oferta maior", destacou o economista independente Salvador Di Stefano.
As manifestações são diárias por parte de sindicatos, universitários, empresários de pequenas e médias empresas, aposentados, pacientes que deixam de receber seus medicamentos oncológicos do Estado e outros setores afetados pelas políticas de ajuste e desregulamentação econômica.
"Alguns preços caíram um pouco, mas porque não há consumo, as pessoas não compram. Acho que estamos pior do que estávamos antes", disse à AFP Liliana Segovia, uma trabalhadora de segurança privada de 44 anos.
Neste sentido, a consultoria Focus Market estimou em um relatório divulgado na segunda-feira que o consumo recuou em abril 20,4% na comparação interanual, e 17,1% em relação a março.
"Abril foi um mês complexo para o bolso dos argentinos. O aumento das tarifas de serviços públicos, apesar da desaceleração da alta do preço dos bens, deixa pouco excedente para manter o gasto em valores constantes", disse seu diretor, Damián Di Pace.
Embora a inflação em 12 meses chegue a quase 290%, categorias não específicas que não se enquadram em alimentos ou vestuário registraram muito maiores: por exemplo, habitação, água, eletricidade e gás, 311,6%; saúde, 341% e transporte, 325%.
"Evidentemente, vamos para próximos meses em que a correção dos preços relativos da economia, como tarifas de serviços públicos e privados, começa a erodir a capacidade de gastos de muitos lares argentinos", explicou Di Pace.
Por outro lado, a contração industrial (21% em 12 meses até março) é a maior desde abril de 2020, quando a atividade estava parcialmente paralisada pela pandemia de covid-19.
* Com informações da Agência France Presse
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