Segundo o ortopedista Carlos Gorios, quando a pessoa quebra o fêmur o indicado é que a cirurgia seja feita em 72 horas. A Prefeitura de Mogi explicou que firmou convênio como o governo estadual para a realização de 420 procedimentos para clínica cirúrgica de média e alta complexidade. Pacientes aguardam por meses cirurgias ortopédicas na Santa Casa de Mogi
Reclamações sobre o setor de ortopedia da Santa Casa de Mogi das Cruzes estão se tornando frequentes. De um lado, a instituição fala que faz procedimentos acima do que foi contratada. Do outro, o paciente espera meses para ser atendido.
O celular virou canal oficial do boletim médico para a família de Guilherme. Maria Aparecida de 65 anos está internada na Santa Casa de Mogi das Cruzes desde o dia 7 de outubro.
“Ela estava no banheiro e acabou escorregando e nesse acidente ela acabou fraturando a cabeça do fêmur. E a primeira ação foi chamar o Samu e o Samu prontamente nos atendeu. Chegou num tempo adequado, o atendimento foi seguindo as normas, tudo ok, e levaram para a Santa Casa. Até o momento, quando ela chegou, parecia que era tudo normal, que não era nada demais, que era só um acidente de idoso que é muito frequente e ela ficaria de observação nessa noite. Porém, fizeram raio-x, não foi constatado nada. Depois, o médico solicitou uma tomografia e aí então foi constatado a lesão na cabeça do fêmur, a fratura”, disse o professor Guilherme Soares de Jesus.
Desde então, a aposentada está esperando por uma cirurgia que já foi marcada e remarcada duas vezes. “A primeira foi no dia 13, na qual estava até tudo certo para a cirurgia, porém de última hora foi cancelada. E o primeiro o médico alegou que ela passou mal e não pôde realizar a cirurgia. Depois foi nos informado que a cirurgia não foi realizada por falta de material”, explicou Guilherme.
Há meses, o Diário TV vem mostrando o sofrimento de famílias que têm algum parente internado na santa casa com o fêmur quebrado e aguardando pela cirurgia. O motivo é sempre o mesmo.
“Ele está aguardando agora a prótese. Eu falei assim: "mas para quando?". Ele falou assim: 'não tem previsão". Eu falei: "mas como é que vai ficar? Se ele pegar outra infecção ele vai morrer". Ele falou: "não pode fazer nada"”, disse Maria Renilde Pereira da Silva Oliveira.
Infelizmente, mais histórias não param de chegar para a produção do Diário TV.
“Já está aqui há 17 dias esperando essa prótese. A gente fala com um, fala com outro, e nada vem a resposta. Eu acho que isso é aí é desistência totalmente do estado ou da cidade, municipal, prefeitura, Secretaria de Saúde de Mogi. Tem que resolver esse problema para nós, não só aqui como também nesse quarto de frente também, outra paciente a mesma situação. Três pessoas como o colo do fêmur quebrado esperando essa prótese”, disse o marido de uma paciente em um vídeo enviado ao Diário TV.
Segundo o ortopedista Carlos Gorios, quando a pessoa quebra o fêmur, especialmente uma pessoa idosa, o indicado é que a cirurgia seja feita em 72 horas.
“Nós temos que tentar operar esse paciente, óbvio, desde que ele tenha condições clínicas, no máximo em 72 horas. Pra quê? Pra que eu consiga pôr esse paciente mais precocemente sentado ou em pé para ele não ter problemas cardiorrespiratórios ou outras comorbidades que ele possa vir a ter pela demora da cirurgia”, explicou o médico;
Ainda segundo o médico, o tempo que esses idosos ficam expostos sem necessidade num ambiente de hospital acaba agravando a situação.
“O risco é que esse paciente vai ter uma qualidade de vida menor enquanto ele não realizar a artroplastia. Esse paciente ele tem um desgaste importante da articulação e aí ele fica aguardando pra fazer uma prótese, cai em qualidade de vida. Ele fica tomando muitas medicações que podem afetar outros órgãos do organismo, vísceras como rim, fígado e estômago”, disse o ortopedista.
Na tarde desta terça-feira (8), a produção do Diário TV recebeu um pedido de ajuda de Márcio Souza. “A minha mãe, Maria Aparecida dos Santos Souza, no dia 21/10, sofreu um acidente onde veio a fraturar o fêmur. Hoje faz 18 dias que ela está no hospital internada aguardando cirurgia. Médicos e enfermeiros falam que não têm previsão de quando vai ser feita essa cirurgia e nem a chegada de material quando”.
A produção do Diário TV está tentando contato com a direção da Santa Casa desde a tarde de segunda-feira (7) para falar sobre estes casos, mas até o momento nenhum retorno. Além disso, a produção também está tentando entender os valores informados pela santa casa em um dos últimos posicionamentos.
No início do mês passado, a Santa Casa disse que "cumpre rigorosamente o contratado com estado, 307 cirurgias de ortopedia ao mês e que fazia aproximadamente 50% acima do contratado pelo estado, ou seja, em média 150 cirurgias a mais".
A produção questionou o estado sobre essa questão. A assessoria da Secretaria de Saúde do Governo de São Paulo falou que não tem contrato direto com a Santa Casa de Mogi das Cruzes, mas faz um repasse de verba para a prefeitura para que ela pague a Santa Casa por alguns procedimentos. Nesta terça, a mesma secretaria disse que tem contrato com a Santa Casa, mas não detalhou para quais serviços.
A Prefeitura de Mogi explicou em nota que o repasse é feito por intermédio de um convênio que firma a realização de 420 procedimentos para clínica cirúrgica de média e alta complexidade e que, para esses procedimentos, que repassam um valor de R$ 413.361,33 mensais, recursos que vêm do Governo Federal. A Secretaria de Saúde disse ainda que "faz o acompanhamento por meio do monitoramento mensal em que os procedimentos são faturados no sistema do SUS".
Comissão da Saúde da Câmara
O vereador Otto Rezende (PSD), presidente da Comissão da Saúde da Câmara de Mogi das Cruzes, explicou que a Santa Casa alega que cada prótese é muito individual para cada paciente e isso acaba contribuindo para os atrasos das cirurgias.
“A Comissão de Saúde da Câmara Municipal que já tem uns quatro meses que a gente tem conversado com a direção da Santa Casa sobre os pacientes que a gente recebe com notícia de que está ficando dois, três meses nos leitos da Santa Casa sem poder operar um fêmur quebrado por falta até de prótese. E é um problema crônico, que tem se avolumado. Recebo diariamente queixas até do Instagram, hoje do Facebook, dos pacientes que têm ficado algum tempo lá internados. Então, é uma preocupação da nossa cidade mas é um problema já antigo esse
ortopedia, prótese, porque existem vários tipos de próteses, vários preços de prótese, vários tamanhos de prótese. Então, cada paciente é muito individualizado por prótese. Então, a Santa Casa tem isso como justificativa para esses atrasos”.
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