Para analistas ouvidos pelo g1, o novo acordo pode significar um aumento no faturamento das duas empresas. O compromisso assinado também traz desafios importantes de governança e em relação às cobranças de taxas e impostos. Imagem de arquivo mostra loja do Magazine Luiza em SP
Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo
A parceria entre a varejista chinesa AliExpress e a brasileira Magazine Luiza fez as ações do Magalu dispararem mais de 12% na bolsa de valores nesta segunda-feira (24).
Para analistas ouvidos pelo g1, o novo acordo pode significar um aumento no faturamento das duas empresas, mas o compromisso assinado também traz desafios importantes de governança e em relação às cobranças de taxas e impostos.
A parceria, anunciada na manhã desta segunda, prevê que os produtos da linha "Choice" da AliExpress sejam vendidos no Brasil por meio do site da Magalu. Essa linha representa o serviço de compras premium da companhia chinesa. (veja mais detalhes no fim desta reportagem)
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Faturamento, governança e impostos
Marcos Duarte, analista da Nova Futura Investimentos, afirma que o interesse repentino pelas ações é justificado pelo impacto inicial do anúncio, que envolve uma companhia brasileira forte no marketplace nacional. Marketplace é uma espécie de shopping virtual — ou seja, um espaço para compras online.
"A ideia é que mais produtos cheguem às mãos dos consumidores, trazendo mais diversidade e lucros para a empresa e, consequentemente, melhora nos números e valorização das ações", diz.
Para Pedro Marcatto, operador de renda variável da B.Side Investimentos, a parceria significa uma sinergia entre as empresas e um ganho de capilaridade no mercado nacional para as duas. Mas o ânimo inicial é um "movimento especulativo do mercado" sobre o valor que pode ser gerado em função da parceria.
"O ganho está ligado à penetração de mercado que elas terão, podendo resultar no aumento de faturamento", diz o especialista.
"Mas só veremos de fato mais para a frente se essa geração vai se consolidar, conforme for executado o planejamento de vendas", analisa.
Para Marcatto, no longo prazo as empresas devem otimizar suas vendas, já que atuarão de maneira complementar. Nesse sentido, ele explica que a varejista chinesa irá fornecer produtos em segmentos que o Magalu tem maior diversidade em sua plataforma nacional.
"Enquanto isso, o Magalu fornecerá aqueles que a AliExpress possui maior diversidade, fortalecendo a disponibilidade de produtos para ambos as varejistas e possivelmente resultando em uma maior eficiência de entrega também", continua Marcatto.
O especialista aponta, no entanto, que um dos principais desafios está relacionado à governança das companhias. A dúvida é se, de fato, haverá uma relação benéfica para ambas com o acordo. Há ainda outro elemento: as duas empresas possuem culturas muito diferentes.
"É importante destacar que é a primeira vez que a AliExpress [que pertence ao grupo chinês Alibaba] faz parceria com uma empresa de fora da China. Além disso, é a primeira vez que Magalu lista os próprios produtos em outra plataforma de marketplace também", afirma o especialista.
O analista da Nova Futura Investimentos, Marcos Duarte, destaca a cobrança de taxas e impostos como mais um desafio, principalmente após a aprovação da taxação de compras internacionais de até US$ 50 pelo Congresso Nacional.
Duarte explica que, com isso, a dificuldade está na manutenção e na ampliação da margem de lucro do Magalu, uma vez que taxas e impostos encarecem o produto ao consumidor e dificultam a distribuição de lucros aos investidores.
"Como a taxação de produtos é uma medida impopular, outro desafio da empresa é mostrar que, mesmo com a taxação, os produtos são eficientes e 'geradores de resultados'", diz. "Gestores da empresa ainda poderão esclarecer os próximos passos e tirar muitas dessas dúvidas."
Para João Daronco, analista da Suno Research, outro desafio é que as empresas consigam implementar uma logística eficiente e que ajude no processo de monetização a partir da parceria.
"À medida que essas barreiras vão sendo superadas, especialmente do ponto de vista operacional, as empresas devem, sim, ter bons ganhos", diz. "O ânimo inicial vem daí. Uma nova vertente, com fluxo e uma boa taxa de conversão, pode gerar alavancagem nas vendas."
O acordo entre as varejistas
A expectativa é que a parceria comece no terceiro trimestre de 2024. As negociações começaram ainda no ano passado, segundo as empresas.
Sobre os tipos de produtos que serão vendidos na plataforma do Magalu, Frederico Trajano, CEO do Magalu e Briza Bueno, diretora do AliExpress para a América Latina, explicam que a são "itens de cauda longa", como produtos de beleza, eletrônicos e para escritórios.
Além disso, as empresas também informaram que os produtos 1P — aqueles que são vendidos direto para o consumidor final por meio de um e-commerce — do Magazine Luiza, serão distribuídos no território nacional por meio da plataforma do AliExpress Brasil.
"Serão vendidos, inicialmente, itens das categorias de bens duráveis, nas quais o Magalu é líder de mercado no Brasil, com capilaridade logística e multicanalidade, fortalecendo também as vendas do e-commerce com estoque próprio (1P) da Companhia", informa o Magazine Luiza sobre a venda de produtos próprios na plataforma do AliExpress.
De acordo com Frederico Trajano, os benefícios da parceria são, justamente, a complementaridade dos produtos oferecidos por cada um dos marketplaces. "Quanto mais produtos disponíveis para o consumidor dentro da minha plataforma, melhor".
Briza Bueno diz que o principal foco da empresa chinesa no momento é disponibilizar em sua plataforma itens como geladeiras e outros bens pesados, "algo que o AliExpress não tem, mas no Magalu é muito forte".
Já para o Magalu, as maiores vantagens virão de segmentos como acessórios de informática, produtos de moda, ferramentas e itens para bebês — áreas que o AliExpress tem maior diversidade de opções.
"A parceria potencializa duas das maiores audiências do e-commerce brasileiro, com mais de 700 milhões de visitas mensais nas duas empresas, e possibilita que o consumidor final tenha acesso a um amplo portfólio de produtos, com curadoria e serviço de qualidade", afirma o Magalu, em nota.
Senado aprova cobrança de 20% de imposto de importação sobre compras de até 50 dólares.
Veja o comunicado do Magazine Luiza na íntegra
"MAGAZINE LUIZA S.A. ("Companhia" ou "Magalu") vem a público comunicar aos seus acionistas e ao mercado em geral que celebrou um acordo com o Aliexpress, plataforma de marketplace internacional do Alibaba International Digital Commerce Group ("Aliexpress"), para a listagem e venda de seus produtos em ambos os marketplaces.
O Aliexpress passará a vender como seller do marketplace do Magalu (3P), oferecendo milhares de itens da sua linha Choice – serviço de compras premium, incluindo produtos com o melhor custo-benefício e velocidade de entrega.
Serão disponibilizados produtos das mais diversas categorias, totalmente complementares às disponíveis atualmente no e-commerce do Magalu. Com isso, a Companhia amplia de forma significativa o sortimento oferecido, acelerando a sua estratégia de diversificação de categorias e de aumento da frequência de compra. Os pedidos realizados no Magalu serão importados por meio do programa Remessa Conforme, impulsionando a operação cross border da Companhia.
Ao mesmo tempo, o Magalu oferecerá produtos do seu estoque próprio na plataforma brasileira do Aliexpress, também complementando o sortimento oferecido por eles. Serão vendidos, inicialmente, itens das categorias de bens duráveis, nas quais o Magalu é líder de mercado no Brasil, com capilaridade logística e multicanalidade, fortalecendo também as vendas do e-commerce com estoque próprio (1P) da Companhia.
A parceria potencializa duas das maiores audiências do e-commerce brasileiro, com mais de 700 milhões de visitas mensais nas duas empresas, e possibilita que o consumidor final tenha acesso a um amplo portfólio de produtos, com curadoria e serviço de qualidade.
Um acordo desse tipo é inédito para ambas as empresas. É a primeira vez que o Alibaba, por meio do Aliexpress – uma das maiores empresas de e-commerce do mundo – faz um acordo estratégico com uma empresa fora da China. Para o Magalu, é a primeira vez que seus produtos serão listados e vendidos por meio de outra plataforma de marketplace."
* Com reportagem de Bruna Miato