Pedro Henrique Silva Justino dos Santos morreu após ser atingido por 11 tiros durante ação policial em Mogi das Cruzes, no dia 15 de junho. Segundo a SSP e o boletim de ocorrência, jovem teria apontado um simulacro de arma de fogo para os policiais. Jovem foi baleado pela PM durante abordagem em rua da Vila Industrial em Mogi das Cruzes
Arquivo Pessoal
A mãe de um adolescente de 16 anos que morreu baleado por policiais militares durante uma ação em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, questionou a abordagem e a quantidade de tiros disparados pela PM. Em entrevista ao g1, Ketllin Suzan Aguiar Silva afirma que há informações contraditórias na versão da polícia.
"Diversas informações contraditórias. Se a arma era de brinquedo, por que tantos tiros? Mesmo que não desse para reconhecer, qual a preparação desses polícias? Em lugar movimentado, porque tinha gente [na rua]", disse.
? Clique para seguir o canal do g1 Mogi das Cruzes e Suzano no WhatsApp
Pedro Henrique Silva Justino dos Santos morreu após ser atingido por 11 tiros na noite de 15 de junho. De acordo com a SSP e com o boletim de ocorrência, o adolescente teria reagido a uma abordagem dos policiais e, em seguida, teria sido baleado.
O g1 pediu e aguarda uma posição da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP).
A mãe conta que o jovem morava com o pai e teria passado na casa dela antes do ocorrido.
"Na noite de sábado, ele saiu da minha casa falando que ele ia trocar umas blusas. Aí ele tinha trocado, voltou pra casa, e depois ele falou que tinha que pagar um rapaz que ele tinha ido cortar o cabelo, que ele estava devendo. E aí, até onde eu sei, ele tinha voltado pra casa da avó dele. E foi a última visualização do celular, que era mais ou menos 20h45. Depois disso, eu, o pai dele e a avó dele já não tivemos mais notícia dele. A gente achou que ele tivesse com a menina, em algum lugar, ou que ele tivesse saído, mas ele nunca teve o costume de sair e ele não passava das 22h. No máximo, 23h ele estava na casa da avó, na casa do pai. E a gente começou a achar estranho", explica.
LEIA MAIS:
Homem morre baleado após reagir a abordagem policial em Mogi das Cruzes
Homem invade delegacia na Grande SP e morre baleado
Por causa do sumiço de Pedro Henrique, Ketllin foi até a delegacia registrar um boletim de ocorrência de desaparecimento do filho no dia seguinte. Porém, ficou sabendo da morte dele através das redes sociais.
"O celular dele chamava, chamava, e alguém desligava. Eu falei 'será que está em algum lugar, perdeu o contato, não sei, não tem dinheiro pra voltar e acabou acabando a bateria'. Eu sei que a gente começou a procura, até chegar publicações e a descrição dele. A camiseta que ele saiu fui eu que dei pra ele ainda".
Primeira versão
A princípio, no dia 16 de junho, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou ao g1, em nota, que, no dia da ocorrência, a Polícia Militar foi acionada para atender uma ocorrência na Rua Borges Vieira, na Vila Industrial. Quando os policiais chegaram ao endereço, teriam encontrado um homem, não identificado, com uma arma de fogo nas mãos.
Ainda segundo a SSP, os policiais tentaram abordá-lo, mas ele fugiu. O suspeito, então, teria se escondido atrás de um poste e passado a apontar o revólver na direção da equipe, que atirou. Por isso, ele teria sido baleado e socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que atestou o óbito.
A SSP informou ainda que, após verificação, foi constatado que a arma que o suspeito usava era uma réplica. O objeto foi apreendido, bem como as armas de fogo envolvidas na ação. O Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP) de Mogi das Cruzes pediu uma perícia para a ocorrência.
Versão diferente
No entanto, o g1 teve acesso ao boletim de ocorrência do caso, que diz que os policiais militares teriam sido acionados para atender denúncia de disparo de arma de fogo em via pública, com as características de dois homens, um vestindo camiseta cinza e o outro verde.
Em depoimento, os policiais militares informaram que a primeira viatura chegou ao local e visualizou os dois suspeitos, e que, em seguida, seguiram o indivíduo vestindo a camiseta verde, porque teriam visualizado um revólver com ele.
Em seguida, eles teriam tentado abordá-lo, mas ele se recusou e continuou correndo. Logo depois, ele teria apontado o simulacro de arma de fogo por diversas vezes na direção dos policias e teria dito que "se viessem atrás dele iriam 'tomar'[tiros]".
Ainda segundo o boletim de ocorrência, foi pedido apoio, outras duas equipes se apresentaram e realizaram um cerco no local. Mesmo assim, o adolescente teria corrido, se escondido atrás de um poste e apontado novamente a arma para os policias. Por acreditarem estar em risco, os policiais teriam realizado diversos disparos contra o jovem, que somente parou e soltou a arma após cair ao solo sem movimento.
O boletim de ocorrência também informou que as câmeras corporais dos policiais militares teriam gravado toda a ação e que as imagens seriam disponibilizadas posteriormente, que corroborariam as versões dos policiais. Ainda no local, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) constatou o óbito. Ainda segundo os policiais, foram realizados pelo menos 32 disparos, sendo que 11 atingiram o corpo da vítima.
O boletim de ocorrência ainda informa que as armas dos policias militares que realizaram disparos foram apreendidas para realização de exames periciais. Segundo o registro, a mãe do adolescente, que teria acionado a Polícia Civil pelo desaparecimento do filho, reconheceu o corpo do jovem no dia 17, dois dias após ele ter sido morto.
Assista a mais notícias sobre o Alto Tietê