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Um mês após Ferraz de Vasconcelos decretar estado de emergência, vice-prefeito afirma que foco é 'salvar vidas' em áreas de risco

Por Nova TV Alto Tiete em 03/03/2023 às 21:33:23

Declaração do vice-prefeito Daniel Balke, representante da Comissão de Gestão de Crise da cidade, foi feita em entrevista ao Diário TV nesta sexta-feira (3). Uma pessoa morreu após um deslizamento em Ferraz de Vasconcelos em fevereiro. Ferraz de Vasconcelos decreta situação de emergência após fortes temporais

Nesta sexta-feira (3), completa-se um mês que a Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos decretou situação de emergência, por causa dos temporais no início de fevereiro. Um mês se passou e os moradores querem saber o que foi feito neste período.

Daniel Balke, vice-prefeito e representante da Comissão de Gestão de Crise de Ferraz de Vasconcelos, comenta quais os trabalhos que a administração do município tem feito para auxiliar e acolher as famílias.

“Acho que é importante a gente salientar que é um momento bastante difícil pra nossa cidade, um dos maiores desastres naturais que nós tivemos aqui. Infelizmente, tivemos uma vida ceifada e isso traz uma enorme consternação pra administração bem como para toda a cidade. A princípio, o que a gente espera, é salvar vidas. Então, todo o foco da Prefeitura é no salvamento das pessoas que estão em área de risco. Posteriormente, nós precisamos fazer uma análise, principalmente na questão de geologia, o solo como é que ele está, se vai ter novos desmoronamentos, a questão da chuva também é importante. Então, assim, a previsão do tempo. A gente tá diariamente verificando isso pra que a gente, aí sim, possa entrar com obras estruturais e outros tipos de serviços que são tão necessários nesse momento. Então, emergencialmente, alimentação, colchão, roupas, higiene pessoal, isso tudo já foi liberado pra essas famílias. Aliás, quero agradecer a Defesa Civil do Estado, que prontamente nos ajudou, mas precisamos de mais ajuda pra que a gente possa, definitivamente, resolver essas questões que são cruciais aqui pra nossa cidade”.

Vista aérea da Vila Cristina, onde foram registrados deslizamentos após as chuvas de quinta-feira

José Antonio de Assis/TV Diário

A partir do momento em que a Prefeitura decretou o estado de emergência, a cidade ficou liberada para contratar empresas para ajudar nos trabalhos de recuperação, por exemplo, sem fazer licitação pública, ou seja, de uma forma mais rápida. O vice-prefeito comenta que o objetivo, a princípio, foi o monitoramento do solo das regiões afetadas por deslizamentos.

“O foco, a princípio, foi na contratação pra verificação do solo. Então, tem uma empresa especializada que está monitorando todos os dias a questão do solo. Vai ser feito, também, laudos individuais das casas. Então, a gente primeiro precisamos saber qual é a real situação dessas moradias e do solo também, dos barrancos onde houve os desabamentos, pra aí depois a gente conseguir fazer intervenções e contratação de empresas especializadas pra, aí sim, atuar na questão das melhorias e infraestrutura da região. Tudo depende muito do tempo. A gente, agora nessa semana, nós tivemos aí uma estiagem, mas antes não tinha tido essa estiagem. Do começo do mês de janeiro até agora, nós tivemos mais de 300 milímetros de chuva aqui na cidade concentrada. Então, isso faz com que o solo fique extremamente encharcado. Então, qualquer movimentação anormal pode fazer e trazer novos deslizamentos. Então, a gente tá tomando muito cuidado com isso”.

De acordo com Balke, ações de auxílio a famílias afetadas pelos deslizamentos já foram desempenhadas. Ele ainda afirma que os laudos individualizados de cada moradia serão observados para a definição de como ficará a situação dos moradores. “Já foi oferecido Auxílio Aluguel, auxílio moradia, pra que essas pessoas possam encontrar novas casas. Hoje, nós temos um laudo que determina a saída imediata, porque há essa movimentação. Então, nós precisamos retificar e ratificar essa informação. Por isso que o laudo vai ser individualizado. Se a gente tiver segurança que essas casas elas podem ser habitadas novamente, ou não na totalidade, em algumas casas, nós vamos fazer as obras que são essenciais. Muro de arrimo, canalizações, então a gente precisa primeiro saber se o solo ele é seguro, pra que a gente possa fazer essas obras. Se não for, a gente vai retirar essas famílias de forma definitiva, aloca-las, a princípio, auxílio moradia, e buscar ajuda do Governo do Estado que, nesse momento, é importantíssimo pra que a gente possa trazer um programa de moradia consistente pra essas pessoas que tão em áreas de risco”.

Na cidade, segundo a Prefeitura, há 300 moradias em áreas de risco, sendo que 20 famílias já foram retiradas das casas e outras 80 foram notificadas.

Desocupações na Vila Cristina

“Por volta de 7h20 da manhã, a GCM nos abordou aqui. Eles estavam armados, ou seja, uma autoridade veio nos abordar falando que a gente tinha que evacuar a casa imediatamente”, disse a esteticista Juliene Oliveira Costa.

Ela é moradora de uma das 80 casas da Avenida dos Autonomistas, no bairro Vila Cristina. Ela recebeu uma ordem da Justiça para desocupar a casa por causa do risco de deslizamento.

“Somos três casas aqui e eles falaram que iam indenizar, indenizar não, falaram que iam entrar com aluguel, auxílio aluguel, só que eram três casas, era um auxílio por casa, por laudo. Com R$ 600 eu vou conseguir alugar três casas? Ainda mais que aqui é meu local de trabalho, tá entendendo? Como que eu vou alugar com R$ 600 três casas e um comércio. A gente quer que eles enviem engenheiro pra avaliar individualmente cada casa, cada solo pra comprovar realmente que há o risco. Se houver o risco, a gente não se recusa a sair, mas a gente quer ser indenizado, a gente não tem como sair com uma mão na frente e outra atrás”, disse a esteticista.

Moradores de área de risco em Ferraz de Vasconcelos são retirados de casa

Aniele Santos/TV Diário

Fabiano Oliveira Braga também é morador do lugar e questiona a prefeitura sobre o fato de algumas famílias pagarem IPTU. Ele comentou que, se realmente houver risco, ele não se nega a sair da casa, mas pede um laudo técnico.

“Eles não entraram em nossas casas pra saber os riscos. Eles se basearam com foto de drone e se houver algum risco, a gente não tá se omitindo a sair, certo, a gente sai. A gente quer alguém da prefeitura aqui pra poder representar eles e dar um suporte pra gente, porque a gente mora aqui há mais de 30 anos, certo? A gente deu a nossa vida aqui pelos nossos imóveis. A gente construiu, teve pai de família que gastou metade da sua vida pra ter um patrimônio. Aí a prefeitura simplesmente quer que a gente saia”, explicou o supervisor de manutenção.

“A Vila Cristina já é uma área que foi iniciada mais ou menos no final dos anos 1990. E aí ela veio crescendo e, principalmente, entorno de uma encosta que hoje, infelizmente, tem o risco bastante sério, através de laudos que nós temos aqui, muito sério de desbarrancar. A gente tem cerca hoje de 20 famílias que já estão notificadas. Nós temos uma medida judicial determinando a saída imediata delas, com risco iminente de queda desse barranco. Mas no total, se a gente for pegar a Rua Santa Edwiges mais a Serra da Bocaina, nós devemos ter ali cerca de 100 famílias”, explicou o vice-prefeito Daniel Balke.

Segundo a Prefeitura, parte do bairro fica em um morro que é área de proteção ambiental. Desde o dia 29 de janeiro, já são 7 pontos de deslizamento.

Segundo os moradores, o problema no bairro Vila Cristina acontece porque o lugar não tem rede de esgoto, uma promessa antiga dos governantes.

“Eu já tive várias reuniões com a prefeita, com o secretário de obras, explicando pra eles que deveria ter sido feito a rua e as caixas de contenção do esgoto a céu aberto aqui. isso já tem já uns seis, sete anos vem fazendo. há uns anos atrás, veio o vice-prefeito e prometeu pra gente que ia fazer um muro e ia canalizar todo o esgoto, só que ficou em esquecimento. mas agora eles vieram com a supressão pra tirar todo mundo imediato, não tem pra onde levar. vai tirar, o pessoal não sabe pra onde tá indo”, disse Francisco de Assis Barbosa, representante do bairro.

“Aquela região em específico, que é a área que hoje está sendo desocupada por força judicial, é uma área de proteção, é uma AAP. Então, não tem como entrar rede de esgoto ali, primeiro porque a gente não tem condição de regularizar. Então, existe um programa de regularização fundiária para a Vila Cristina. Já houve um mapeamento e estudos preliminares. Então, a parte baixa da Vila Cristina, essa, muito provavelmente, a gente vai conseguir fazer a regularização fundiária. A parte de cima, que é a parte da encosta, infelizmente não é possível entrar com rede de esgoto ou qualquer outro serviço público, porque lá é uma área de proteção e ocupação irregular”.

Através de uma decisão judicial, 20 famílias do mesmo bairro foram retiradas de suas casas, na quinta-feira (3), por causa do risco de deslizamento de terra. Os imóveis ficam de um dos lados da encosta do morro.

A Prefeitura pediu à justiça que os moradores das ruas Serra da bocaina e Santa Edwiges saiam das residências. Na decisão de 28 de fevereiro, o juiz Rodrigo de Azevedo Costa determinou a retirada das pessoas e deu um prazo de 30 dias para a prefeitura apresentar laudo de risco individualizado de cada imóvel citado no processo de afastamento. Além disso, o juiz fixou um prazo de cinco dias para o cadastramento das famílias.

“As casas são residências em que as pessoas resistiram a suas saídas, então foram identificadas. Foi relatado ao judiciário e, hoje, tem uma decisão judicial para que faça a retirada coercitiva dessas famílias. A operação tá sendo feito da forma mais tranquila possível, dentro de um convencimento, conscientizando essas pessoas dos riscos que elas estão correndo aqui”, disse Cleverson Souza Ramos, comandante da Guarda Civil Municipal de Ferraz de Vasconcelos.

Há uma semana, um homem de 40 anos morreu soterrado no bairro Vila São Paulo que fica do outro lado da encosta.

Quem vive no bairro há décadas se questiona por que a prefeitura só resolveu fazer essa ação agora e se preocupa como é que será a vida depois que o auxílio moradia terminar.

“Vou ter que alugar, né? E com certeza vão ter que me dar um Auxílio Aluguel, porque não tem como eu pagar e lá é R$ 700. Já vou ter que tirar 100 [reais] do nosso bolso, e como? Se só ela e mais o menino que trabalha? Ele é aposentado, eu não trabalho. Mas vão ter que ir, receber a notificação eu não vou passar por cima da ordem do juiz”, contou a dona de casa Maria do Carmo de Souza.

Na região, de um lado fica a Vila Cristina e do outro a Vila São Paulo. Imagens áreas mostram que é possível ter uma noção da proporção do problema e também onde ele está.

Alertas de risco

A produção do Diário TV solicitou informações sobre os alertas que o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) enviou para a cidade de Ferraz de Vasconcelos.

Entre janeiro e fevereiro, a cidade recebeu nove alertas entre 29 de janeiro e 28 de fevereiro. Foram quatro para risco hidrológico, avisando que o acúmulo de água seria o suficiente para provocar alagamentos, e cinco para movimento de massa, alertando a cidade para risco de deslizamento. Um dos avisos, inclusive, foi emitido no dia 23 de fevereiro, dia em que um morador da cidade morreu num deslizamento.

O vice-prefeito também comenta como a prefeitura atua através da comunicação desses alertas e avisos. “O Cemaden manda esses avisos geralmente de acordo com o mapeamento de risco, de áreas de risco, que a prefeitura tem. Então, ela envia ao Cemaden, dentro dessas localizações eles fazem o aviso. Ocorre que, aqui na Vila Cristina, não era considerada área de risco, porque nós estamos aqui, apesar de ser uma encosta, ela é muito menos íngreme do que da Vila Cristina ela é, em alguns aspectos, ela é quase de 90 graus. Aqui ela não é tão íngreme e tinha vegetação preservada. Então, os técnicos da Vigilância entraram no local e verificaram que não existia, existia uma zona obviamente de atenção, mas não um zoneamento de risco. Então, todos os informes do Cemaden foram para a Vila Cristina. E graças a esses informes e os esforços da Defesa Civil é que nós lá, graças a Deus, não perdemos nenhuma vida. Infelizmente, perdemos aqui na Vila São Paulo, mas estamos vendo todo esse mapa geológico pra reavaliar todas áreas de risco”.

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Fonte: G1

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