Caso aconteceu em um batalhão da Polícia Militar em Suzano, na Grande SP. SSP disse que a PM instaurou uma investigação para apurar os fatos e, caso seja identificada alguma transgressão disciplinar, medidas cabíveis serão tomadas. Polícia Militar investiga denúncia de racismo em batalhão de Suzano
Uma soldado negra da Polícia Militar de São Paulo alega ter sido vítima de constrangimento ilegal em um batalhão de Suzano, na Grande São Paulo, após um tenente ter dúvidas sobre as tranças que ela utilizava no cabelo estarem em conformidade com normas de apresentação pessoal da corporação. O caso ocorreu no dia 16 de julho no 32° Batalhão de Polícia Militar, durante uma inspeção de qualidade.
Segundo a defesa da soldado, a policial ficou por mais de 1h30 no alojamento, enquanto ocorria a averiguação.
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Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que a PM instaurou uma investigação para apurar os fatos e, caso seja identificada alguma transgressão disciplinar, medidas cabíveis serão tomadas. A SSP ainda informou que a PM é uma instituição legalista e não compactua com excessos ou desvios de conduta.
O g1 questionou a PM sobre o que o Regulamento de Apresentação Pessoal da Corporação determina para o uso de tranças no cabelo por parte da corporação. No entanto, não houve retorno até a publicação desta matéria.
O g1 tenta localizar a defesa do tenente.
Caso aconteceu no 32º Batalhão da Polícia Militar Metropolitano, em Suzano, na Grande SP
divulgação/ Polícia Militar
Conversa gravada
O g1 teve acesso à gravação da conversa da soldado com o 1º tenente da corporação no dia da inspeção.
Segundo a defesa da soldado, ela foi ordenada a permanecer no alojamento feminino pois o oficial tinha dúvidas sobre a permissão do uso das tranças em relação ao Regulamento de Apresentação Pessoal da Corporação.
Ainda de acordo com a defesa, a soldado ficou no local, mas teve uma crise de pânico ao perceber o motivo da exclusão. Uma outra policial socorreu a soldado, que foi levada para conversar novamente com o tenente.
Durante o diálogo com o oficial, de acordo com a gravação, o oficial diz que "é vedado o uso de postiços e apliques ou perucas". Em seguida, ele questiona se as tranças dela eram postiças, sendo que ela afirma que não eram.
"Até agora não há um consenso se é um caso de aplicação, se é permitido ou não o seu corte de cabelo. Então, para não ter que explicar no pessoal de fora, eu pedi para que você ficasse no alojamento. Só isso".
Representação contra o tenente
No dia 19 de julho, a soldado apresentou representação à PM contra o tenente. O g1 teve acesso ao documento, no qual ela alega que foi vítima de constrangimento ilegal e "o fato de permanecer no interior do alojamento me deixou profundamente constrangida, diminuída e humilhada, considerando não haver motivos para que lá eu estivesse, a não ser minha estética capilar".
Ainda segundo a representação, a soldado contou que o tenente disse a ela durante a conversa que "é oficial da PM e, portanto, ele não deveria sofrer, pensando em assuntos administrativos aos finais de semana', antes, era eu quem deveria sofrer e, caso o referido Oficial 'determinasse que eu plantasse bananeira, a ordem deveria ser cumprida', além de me ameaçar dizendo que poderia me 'prender' naquele momento, pois encontraria vários artigos que se 'encaixariam' a esta sanção".
"Não é desconhecido que nós, negros, historicamente sofremos por opressões, como as cediças questões da escravidão, segregação e discriminação, ainda hoje temas complexos e não totalmente resolvidos, como se percebe, com todo o respeito, no caso em tela", argumentou a soldado no documento.
Ela ainda apontou que a motivação da decisão do oficial em ordenar que ela ficasse no alojamento foi racista, pois ela foi reclusa por um "problema estético".
Ainda de acordo com a representação, a soldado afirmou que, depois do ocorrido, foi transferida para o rancho do batalhão.
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