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Realidade é diferente apenas em Itaquaquecetuba, onde 12 dos 19 vereadores se autodeclararam negros. Raphael Vicente, cientista político, afirma que um dos fatores que aumentam a desigualdade no Legislativo é que os próprios partidos políticos não adotam políticas efetivas de inclusão racial de forma ampla. No Alto Tietê, segundo o Censo 2022, 49,5% da população é negra (soma de pretos e pardos). Porém, de acordo com levantamento do g1 com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), das 160 cadeiras nos Legislativos da região, apenas 48, o que representa 30%, são ocupadas por pardos e pretos – a cada dez vereadores da região, apenas três são negros. Somente uma câmara tem uma realidade racial diferente no Legislativo: Itaquaquecetuba. No município 12 dos 19 vereadores se autodeclararam negros. Segundo dados do TSE, são 11 parlamentares pardos e um negro no município, o que corresponde a 63,16% da Câmara.? Clique para seguir o canal do g1 Mogi das Cruzes e Suzano no WhatsApp Suzano é a segunda cidade com mais parlamentares autodeclarados negros na região: das 19 cadeiras no legislativo, cinco são preenchidas por pardos e três por pretos. Em seguida aparece Mogi das Cruzes, com 30,43% dos vereadores negros.Já as câmaras de Arujá, Biritiba-Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Poá, Salesópolis e Santa Isabel têm menos de 30% composta por negros.LEIA MAIS:Veja quem são os candidatos a prefeito e a vereador nos dez municípios do Alto TietêSenado aprova PEC que tira verba para candidatos negros e perdoa dívidas de partidosR$ 15 mil a R$ 1 milhão: confira os patrimônios dos candidatos à Prefeitura de Mogi das CruzesEleições 2024: candidaturas negras sobem para 52%, mas podem ter financiamento reduzido com aprovação de PECPEC da Anistia e cotas eleitoraisEm agosto de 2020, o TSE definiu que a distribuição de recursos do Fundo Partidário, do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e do tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão deveria ser proporcional ao total de candidatos negros que o partido apresentar para a disputa eleitoral. De acordo com a Corte Eleitoral, o entendimento valeria a partir das eleições de 2022.Ainda em 2020, o Supremo Tribunal Federal validou a aplicação dos recursos como decidido pelo TSE para valer já nas eleições daquele ano. Em relação a percentuais mínimos de candidaturas negras, o TSE decidiu que o tema deveria ser regulamentado pelo Congresso Nacional.Recentemente, no dia 15 de agosto, o Senado aprovou, de forma definitiva, a chamada PEC da Anistia, uma emenda constitucional que deve livrar os partidos de multas por descumprimento de repasses mínimos para candidaturas negras. O dispositivo também perdoa outras irregularidades em prestações de contas eleitorais.Com isso, o percentual definido na PEC pode representar uma diminuição dos repasses feitos a essas candidaturas que, atualmente, está próximo a 50%.Desigualdade na políticaO cientista político Raphael Vicente afirma que diversos fatores contribuem para o baixo número de pessoas negras nas câmaras municipais da região e do Brasil como um todo. Entre eles, os próprios partidos políticos, em regra, não adotam políticas efetivas de inclusão racial de forma ampla, por exemplo."A exclusão social e econômica histórica da população negra no Brasil reflete diretamente na representação política. A falta de acesso a recursos financeiros, educação de qualidade e redes de influência dificulta o ingresso de pessoas negras na política. As campanhas políticas exigem financiamento significativo, e muitas vezes, candidatos negros não têm acesso aos mesmos recursos financeiros e apoios partidários, o que limita suas chances de sucesso", explica.Vicente acredita que mudanças práticas por parte do poder público podem transformar essa realidade racial no Legislativo de todo o país."Duas ações importantes seriam garantir financiamento de campanha proporcional para candidatos negros pode nivelar o campo de disputa, permitindo que eles concorram em condições mais justas, bem como investir em programas de formação política para jovens negros, promovendo liderança e engajamento desde cedo".O cientista político também avalia que há uma resistência cultural à mudança das dinâmicas de poder estabelecidas. Além disso, ele aponta que as elites políticas atuam com frequência para permanecer a atual configuração da administração pública."Políticas públicas que promovem diversidade nas câmaras municipais são fundamentais para assegurar uma representação mais justa e equitativa da população. Aumentar a diversidade no Legislativo ajuda a promover justiça social, garantindo que grupos marginalizados tenham voz nas decisões que impactam suas vidas".O cientista político observa ainda que uma democracia saudável depende da representatividade de todos os segmentos da sociedade e que políticas públicas que incentivam a diversidade fortalecem a legitimidade das instituições democráticas."Uma câmara municipal mais diversa traz uma gama mais ampla de perspectivas, resultando em políticas públicas mais inclusivas e eficazes, que atendem melhor às necessidades da população", completa.Assista a mais notícias sobre o Alto Tietê