Mesmo após deflação registrada em agosto, analistas apostam que o Copom deve subir a taxa básica de juros para 10,50% ao ano nesta semana. Se confirmado, será o 1º aumento em dois anos. Objetivo seria conter as expectativas de inflação, que estão em alta. Gabriel Galípolo, que foi indicado pelo governo Lula para a Presidência do Banco Central por Lula
Pedro França/Agência Senado
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve iniciar nesta semana um ciclo de alta dos juros, segundo a projeção da maior parte dos analistas do mercado financeiro.
A reunião, marcada para terça e quarta-feira (17 e 18), acontece após a indicação do economista Gabriel Galípolo, atualmente diretor de Política Monetária da instituição, para o comando do BC a partir de 2025. Ele ainda terá de ser sabatinado e aprovado pelo Senado para poder tomar posse.
Se confirmada, essa será o primeira elevação da taxa de juros desde agosto de 2022, ou seja, em pouco mais de dois anos e, também, a primeira durante o terceiro mandato do presidente Lula.
Atualmente, após uma sucessão de cortes e duas manutenções seguidas, a taxa básica da economia está em 10,50% ao ano.
A previsão do mercado, em pesquisa do BC com mais de 100 instituições financeiras na semana passada, é que a taxa suba para 10,75% na próxima semana e que continue subindo até atingir 11,50% ao ano em janeiro — com um crescimento de 1 ponto percentual ao todo.
Os analistas também estimam que, a partir de março do ano que vem, a taxa começará a recuar, terminando 2025 em 10,25% ao ano.
Deflação em agosto e sistema de metas
O mercado acredita que o BC deve subir os juros nesta semana apesar de a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ter caído, ou seja, terem registrado uma deflação, de 0,02% em agosto.
Pelo sistema de metas, que serve de referência para a atuação do BC, entretanto, o Copom deve nivelar a taxa de juros para atingir as metas fixadas para os próximos anos, e não tendo por base a inflação passada.
A meta central de inflação é de 3% neste ano, e será considerada formalmente cumprida se o índice oscilar entre 1,5% e 4,5% neste ano.
A partir de 2025, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida (sempre considerando o cenário em 12 meses).
As decisões sobre a taxa de juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia. Com isso, o BC já está mirando, neste momento, na inflação, no acumulado de doze meses, até março de 2026.
E as projeções do BC e do mercado estão, no jargão técnico, "desancoradas" das metas de inflação fixadas para o futuro, e subindo.
Na semana passada, os analistas dos bancos estimaram um IPCA de 4,30% para 2024, de 3,92% para 2025 e de 3,60% para 2026 — acima do objetivo central de 3%, mas dentro do limite de até 4,5%.
No fim de junho, o Banco Central projetou uma inflação de 4,2% para 2024, de 3,6% para 2025 e de 3,2% para 2026, também acima da meta central e dentro do intervalo de tolerância.
"O Copom volta a se reunir em setembro após semanas de intensa volatilidade e com fundamentos que justificam o início de um ciclo de alta de juros.", informou o Itaú, em comunicado. A instituição projeta um aumento de 1,5 ponto percentual nos juros nos próximos meses.
'Ele tem o perfil de uma pessoa competentíssima', diz Lula sobre Gabriel Galípolo
Para o Itaú, os fatores que pressionam a inflação e justificam alta dos juros são:
o real seguiu pressionado, ou seja, o dólar continuou alto, próximo das máximas recentes;
as contínuas incertezas sobre os rumos das contas públicas, com dificuldades do governo em equilibrar suas contas;
os dados mais recentes de atividade indicam que a economia se encontra mais aquecida do que o BC esperava na última reunião;
as expectativas de inflação seguem desancoradas (acima das metas fixadas).
Críticas de Lula e Galípolo indicado à Presidência
A reunião do Copom que deverá subir a taxa de juros pela primeira vez em dois anos será tomada após fortes críticas do presidente Lula ao atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Lula desaprova o patamar alto dos juros reais brasileiros na comparação com o resto do mundo, alegando que eles freiam o crescimento da economia.
"Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Presidente que tem lado político, que trabalha para prejudicar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está", declarou Lula, em abril deste ano.
Em junho, após os maiores bancos do país projetarem interrupção do processo de corte dos juros, Lula voltou a repetir as censuras a Campos Neto.
"Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está", afirmou Lula, na ocasião.
Na mesma semana, o BC interrompeu o processo de redução dos juros. Mas a decisão foi unânime, ou seja, também votou por ela o atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, indicado por Lula posteriormente para a Presidência do BC.
Em agosto, o presidente da República afirmou que não tem problema Galípolo falar em aumento dos juros, pois ele seria uma pessoa "competentíssima", um "brasileiro que gosta do Brasil".
"Se um dia o Galípolo chegar para mim e falar, 'olha, tem que aumentar o juro', ótimo, aumente. Ele tem o perfil de uma pessoa competentíssima, competentíssima, e um brasileiro que gosta do Brasil", afirmou Lula, no mês passado.