g1 questionou Carrefour Global sobre a quantidade de carne adquirida pela companhia do Mercosul e do Brasil. Carrefour
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"Quase 100% da carne da carne comprada pelo Carrefour França é produzida na França", disse ao g1 a assessoria de imprensa do Carrefour Global nesta quinta-feira (21), um dia depois de o CEO da companhia, Alexandre Bompard, ter anunciado que as lojas do grupo iriam parar de comprar carne do Mercosul.
Na ocasião, Bompard não detalhou quais unidades da rede de supermercados adotariam a medida. Nesta quinta, o Carrefour Global explicou que a paralisação vale apenas para as lojas da França.
Apesar disso, quase a totalidade das carnes que os supermercados franceses compram são da própria França, conforme detalhou a companhia, nesta tarde, após a reportagem questioná-la sobre a quantidade de carne adquirida pela companhia do Mercosul e do Brasil.
Fala de CEO e protestos na França
O anúncio do CEO do Carrefour Global informando que a empresa iria parar de comprar carne do Mercosul ocorreu durante o 3º dia consecutivo de protestos de agricultores franceses contra o acordo de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul.
As manifestações ocorreram em meio à passagem de autoridades da UE pelo Rio de Janeiro, para o encontro do G20, que aconteceu nos dias 18 e 19 de novembro. O acordo, negociado há mais de 20 anos, é apoiado pelos governos da Espanha e Alemanha, mas sofre oposição do presidente da França, Emmanuel Macron.
Um dos receios dos produtores é de que o tratado torne os produtos agrícolas sul-americanos mais baratos no território, reduzindo a competitividade das mercadorias europeias.
Se aprovado, o tratado vai facilitar a entrada, na Europa, de mercadorias como carne bovina, frango, açúcar, milho e soja, produtos que o Brasil lidera na exportação.
Agro e governo brasileiro reagiram
A medida anunciada pelo CEO do Carrefour Global repercutiu negativamente entre as associações brasileiras e sul-americanas do agronegócio, assim como no Ministério da Agricultura do Brasil (Mapa).
Na quarta-feira (20), o Mapa declarou que vê protecionismo na ação da França e que rechaça as declarações do CEO do Carrefour.
"O Mapa lamenta tal postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações".
A pasta disse ainda que "reitera a qualidade e compromisso da agropecuária brasileira com a legislação e as boas práticas agrícolas, em consonância com as diretrizes internacionais".
O ministério afirmou ainda que o Brasil atende aos padrões "rigorosos" da União Europeia e que o bloco compra e atesta, por meio de suas autoridades sanitárias, a qualidade das carnes do país.
O que disse o agro do Brasil
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) disse que lamenta a declaração de Bompard e que o posicionamento do CEO "é contraditório, vindo de uma empresa que opera cerca de 1.200 lojas no Brasil, abastecidas majoritariamente com carnes brasileiras".
A instituição destacou ainda que a medida coloca em risco o próprio negócio, uma vez que a produção local não supre a demanda interna.
A Abiec informa que, em 2023, o Brasil respondeu por 27% das importações de carne bovina da União Europeia e o Mercosul, por 55%.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) também lamentou a declarações do CEO e disse que os argumentos são equivocados ao afirmar que as carnes produzidas pelos países-membros do Mercosul não respeitam os critérios e normas do mercado francês. "A argumentação é claramente utilizada para fins protecionistas", diz nota.
Produtores rurais do Mercosul também reagiram
A Federação das Associações Rurais do Mercosul (Farm) também repudiou, nessa quinta-feira (21), a fala de Bompard.
"Os produtores rurais da Farm e suas entidades aqui representadas não aceitarão ataques injustificados e se reservam o direito de reagir de maneira firme, seja por vias econômicas ou institucionais, para proteger a imagem e os interesses do setor agropecuário de seus países."