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ECONOMIA BRASIL

Carrefour x Mercosul: o que dizem a retratação do CEO e a carta que deu origem à polêmica

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Alexandre Bompard enviou, nesta terça-feira (26), uma carta ao Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, com um pedido de desculpas, após comunicado em que afirmou que o grupo deixaria de comprar carne do Mercosul. Depois de reclamar de carne do Mercosul, Presidente do Carrefour diz que produto brasileiro tem 'qualidade, respeito às normas e sabor'

André Feites

O presidente do Carrefour, Alexandre Bompard, enviou uma carta ao ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, com um pedido de desculpas após comunicado em que afirmou que o grupo deixaria de comprar carne do Mercosul na última quarta-feira (20).

No documento, Bompard volta atrás em alguns argumentos usados em seu posicionamento inicial. Confira abaixo.

??'Não atende exigências e normas' X 'carne de qualidade'

Na carta à Fávaro, Bompard afirma que sabe que "a agricultura brasileira fornece carne de qualidade, respeito às normas e sabor".

Mas, em seu primeiro comunicado, o posicionamento do presidente do grupo de supermercados era de que o acordo entre a União Europeia e o Mercosul causa um "risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas".

O Brasil é um dos países membros do Mercosul, junto da Argentina, Paraguai e Uruguai.

No pedido de desculpas, o presidente do Carrefour diz ainda que conhece o "profissionalismo, cuidado à terra e produtores" brasileiros.

Para Bompard, a fala gerou "confusão" e "pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela".

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?? Apelo aos restaurantes franceses X 'amigo de longa data'

No primeiro comunicado, Alexandre Bompard não deixou claro qual era a extensão da medida. Posteriormente, a rede de supermercados explicou que a restrição valeria somente para lojas da França — que, no entanto, praticamente não vendem carne que não seja daquele país.

Apesar do baixo impacto que teria no Brasil, a nota de Bompard pedia para que restaurantes franceses, que importam 60% de suas carnes, assumissem o mesmo compromisso de não comprar carnes do Mercosul.

Bompard declarou que a comercialização de carnes na França continuará sendo majoritariamente do país. De mesmo modo, as unidades brasileiras venderão o produto nacional.

"São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro", afirma.

"A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes", diz a carta.

Segundo Bompard, o Brasil é o país no qual o grupo mais investiu durante a sua presidência.

Boicote ao Carrefour

A fala de Bompard, na última quarta-feira (20), desencadeou uma série de boicotes de frigoríficos brasileiros à rede Carrefour, e ao Atacadão e Sam's Club, que também fazem parte do grupo. Um dia depois da declaração do CEO, grandes empresas, como a JBS e Minerva, além da Masterboi, interromperam o fornecimento de carne ao grupo.

O movimento recebeu apoio do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que explicou que o que incomodou foi Bompard ter questionado "qualidade sanitária das carnes brasileiras".

Na segunda-feira (25), o Carrefour Brasil informou que a interrupção do fornecimento já gerava impacto aos seus clientes.

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Íntegra do primeiro comunicado de Bompard

"Em toda a França, ouvimos o desespero e a indignação dos agricultores diante do projeto de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul e o risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas.

Em resposta a essa preocupação, o Carrefour quer agir em conjunto com o setor agrícola e assume hoje o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul.

Esperamos inspirar outros atores do setor agroalimentar e impulsionar um movimento mais amplo de solidariedade, além do papel da distribuição, que já lidera a luta em favor da origem francesa da carne que comercializa.

Faço um apelo especial aos atores da restauração fora de casa, que representam mais de 30% do consumo de carne na França – mas onde 60% é importada – para que se unam a esse compromisso.

Somente unidos poderemos garantir aos pecuaristas franceses que não haverá nenhuma possibilidade de contornar essa questão.

No Carrefour, estamos prontos, qualquer que seja o preço e a quantidade de carne que o Mercosul venha a nos oferecer."

Íntegra carta de retratação

"Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Senhor Carlos Fávaro,

A declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como Diretor-Presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la. O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil. Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais. Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos. O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130.000 colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim, seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil. Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas. O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor Ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros. Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração.

Atenciosamente,

Alexandre Bompard

Diretor-Presidente do Grupo Carrefour"

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