ECONOMIA
Aposta da maior parte dos economistas do mercado financeiro é de elevação da Selic, para patamar que pode superar os 12% ao ano. Decisão do Comitê de Política Monetária será anunciada após as 18h. Banco Central deve subir o juro básico da economia pela terceira vez seguida nesta quartaRaphael Ribeiro/BCBO Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta quarta-feira (11) e deve acelerar novamente o ritmo de elevação dos juros básicos da economia. A decisão será anunciada após as 18h. Na última reunião, em novembro, a taxa subiu 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano.De acordo com projeção do mercado financeiro, com base no relatório Focus, do BC, que ouviu mais de 100 bancos na semana passada, a Selic deve subir para 12% ao ano nesta quarta, uma elevação de 0,75 ponto percentual. Entretanto, os contratos de opções (um tipo de aposta) embutem, em sua maioria, um aumento maior ainda: de 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano. Esse foi o patamar da taxa em janeiro de 2023, no início do governo Lula.Se confirmado, esse será o terceiro aumento seguido, e o maior desde março de 2022, ou seja, em quase três anos, quando a taxa subiu também um ponto percentual."Ao longo dos últimos meses, testemunhamos um crescente de incerteza e aversão a risco. Parte dessa pressão decorreu do contexto externo, mas foi também bastante impulsionada pelo anúncio de um ajuste fiscal que, pelo menos em um primeiro momento, frustrou os analistas independentes", avaliou o Itaú, em comunicado. Após semanas de espera, a equipe econômica anunciou na última quinta-feira (28) um pacote com propostas de cortes de gastos.Entre as medidas, estão a limitação do salário mínimo, mudanças no acesso ao abono salarial, na aposentadoria dos militares e na fiscalização do Bolsa Família e BPC.Por outro lado, também propôs ampliar o limite de isenção do Imposto de Renda para até R$ 5 mil, o que gerou tensão nos mercados. O Itaú, que projeta uma alta de um ponto percentual na Selic nesta quarta-feira, para 12,25% ao ano, também citou a alta do dólar como fator que pressiona a inflação, além de um dinamismo maior da economia com o crescimento do PIB do terceiro trimestre surpreendendo. Mercado financeiro não acredita mais em juros abaixo de 10% ao ano no governo Lula'Espero que meu sucessor não seja criticado pela cor da camisa que ele veste', diz Campos NetoTroca de comando no BCEssa também será a última reunião do Copom comandada por Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro e alvo de críticas de Lula e da bancada petista. A partir de janeiro, o BC será comandado por Gabriel Galípolo, escolhido pelo atual presidente da República e que conta com seu apoio, mesmo votando pela alta dos juros nos últimos meses. Galípolo é aprovado com folga pelo SeandoDisparada do dólarA decisão do Copom sobre o patamar da taxa de juros ocorre em meio à forte alta do dólar, que acumulou aumento, em 2024, de mais de 25% até segunda-feira (6) – cotado a R$ 6,08. Segundo analistas, esse é mais um fator a pressionar a inflação.De maneira geral, a taxa de câmbio pode ter influência nos preços domésticos em diferentes frentes, como por meio da importação de produtos e insumos ou mesmo pela equiparação dos preços praticados no Brasil com o mercado internacional.Alta do dólar impacta em diversos setores da economia brasileiraDe acordo com o estudo "O impacto cambial no consumo dos brasileiros e a necessidade de diversificação internacional", do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGVcef), a taxa de câmbio tem um impacto significativo sobre a inflação em diversos segmentos, com variações que se traduzem em aumentos de preços ao consumidor. "Esse impacto é muitas vezes subestimado pelo investidor, que não enxerga diretamente como a inflação setorial está conectada ao câmbio", diz o estudo, que recomenda investimentos em ativos que protejam contra a desvalorização cambial, como parte de uma estratégia de diversificação.A alta da moeda norte-americana, por sua vez, tem relação com o crescimento das dúvidas sobre o controle de gastos públicos, tarefa a cargo dos Ministérios da Fazenda e Planejamento, além de incertezas sobre a política monetária dos Estados Unidos. Com juros mais altos nos EUA, o dólar sobe mais no Brasil.Como as decisões são tomadasPara definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o Banco Central olha para o futuro, e não para a inflação corrente, ou seja, dos últimos meses.Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.Neste momento, a instituição já está mirando na meta considerando o primeiro semestre de 2026.A meta de inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%;A partir de 2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida;Na semana passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 somará 4,84% (acima do teto da meta anual) e, a de 2025, 4,59% (também acima do teto da meta), e de 4% em 2026.Em setembro, o Banco Central estimou que as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência estavam em 4,3% em 2024, 3,7% em 2025 e 3,3% em 2026.Efeitos na economiaDe acordo com especialistas, uma taxa de juros maior no Brasil tende a ter algumas consequências na economia. Veja abaixo algumas delas:?? Reflexo nos juros bancários: a tendência é que a alta da queda da Selic influencie as taxas cobradas dos clientes bancários. Em outubro, a taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas e empresas somou 40,2% ao ano, o maior nível desde março de 2024 (40,4% ao ano).?? Crescimento da economia: com juros mais altos, a expectativa é de um comportamento mais contido do consumo da população e, também, de mais dificuldades aos investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Nos últimos meses, porém, os dados de atividade têm surpreendido positivamente.?? Piora das contas públicas: juros mais altos também desfavorecem as contas públicas, pois aumentam as despesas com juros da dívida pública. Em doze meses, até outubro de 2024, a despesa com juros somou R$ 869 bilhões (7,57% do PIB). Com isso, o endividamento avançou para 78,6% do PIB, patamar alto para países emergentes. ?? Impacto nas aplicações financeiras: investimentos em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, porém, terão um rendimento maior, com o passar do tempo, do que seria registrado com juros mais baixos. Isso contribui para diminuir a atratividade do mercado acionário.