Escolas de Itaquaquecetuba e Santa Isabel desenvolvem atividades culturais e esportivas em referência à data. Lei promulgada em 2022 alterou a celebração do dia 19 de abril de "Dia do Índio" para "Dia dos Povos Indígenas", nomenclatura que respeita as diferentes culturas dos povos originários. Escolas do Alto Tietê celebram o Dia dos Povos Indígenas
Nesta quarta-feira (19) é celebrado o Dia dos Povos Indígenas. É a primeira vez que o Brasil celebra a data com esse nome e não mais como "Dia do Índio", como era até o ano passado, quando a mudança foi aprovada por lei.
"Povos Indígenas". O projeto desenvolvido pela Secretaria de Educação de Itaquaquecetuba, ganhou forma no mural da escola. A cultura indígena, presente na essência do povo brasileiro foi bem recebida pelos alunos da Escola Municipal Professora Maria Diniz de Almeida. Um mergulho na própria identidade da turma.
“A tradução dessa cantiga é um cachorro que foi comer comida quente e queimou a boca”, contou a aluna Frank Gabriel. “Uma canção de ninar que os povos indígenas usavam para fazer os bebês dormirem. A gente fez uma pesquisa junto com a professora Maria do Socorro, do 5º Ano A. Foi muito interessante”, completou a aluna Júlia Schadek.
“Eu fiz a pesquisa das cantigas, das pinturas, das músicas e o porquê deles estarem utilizando a pintura que eles fazem hoje em dia. Despertou demais a atenção deles, o interesse deles em conhecer a origem dos nossos povos indígenas, que não é só o que eles imaginavam”, disse a professora Maria do Socorro Moura Lima.
Escola Municipal Professora Maria Diniz de Almeida, em Itaquaquecetuba, recebeu palestra do cacique Alex Werá Kaimbé
Reprodução/TV Diário
Quem também curtiu demais o tema, proposto pelos professores foi Yago. “O que mais me chamou atenção foi a origem de Itaquá, que vem do nome "abundância de taquaras que cortam", que é essa planta aqui, taquaras. Então, isso foi uma das coisas que mais me chamaram atenção. Outra coisa também foi as brincadeiras indígenas. E tudo isso se refere à cidade que eu moro”, disse o aluno, de 10 anos.
“Foi muito gratificante, porque com toda essa prática que eu tenho já há 20 anos, eu tive que desaprender pra poder aprender e poder ensinar os estudantes sobre essa cultura dos indígenas, sobre a luta, a conquista. Então, foi muito gratificante. Os alunos se empenharam muito. Foi muito bom”, comentou a professora Lucia Oliveira Costa.
Com o objetivo de conscientizar e ampliar o conhecimento e conscientizar as crianças, a escola convidou um líder indígena para dar uma palestra aos alunos, o cacique Alex Werá Kaimbé, da etnia Kaimbé.
Com olhares bem atentos, a turminha acompanhou a palestra com interesse e curiosidade.
“O povo Kaimbé, nós somos oriundos da Caatinga nordestina, precisamente do município de Euclides da Cunha, Bahia, no município Massacará, onde se localiza minha aldeia, o meu território. O meu território é demarcado, nós somos um povo histórico. Nós temos uma luta linda de resgate, nós temos uma luta linda de resistência, que fica na Bahia. E nós, Kaimbé, nós estamos no estado de São Paulo em 16 cidades, exclusivamente no município de Itaquá. Já tem Kaimbé com representatividade aqui no município já há 44 anos, precisamente, que nós viemos em busca de oportunidade, no tempo da indústria, aonde nós buscamos oportunidade. Nós estamos aqui no contexto urbano já há muito tempo. O importante é que nós conseguimos preservar, mesmo vivendo no contexto urbano, a nossa identidade, a nossa cultura, a nossa vestimenta e a nossa forma de ver a nossa cultura e a nossa ancestralidade”, explicou o cacique.
As crianças aprenderam também a nova forma de se dirigir aos indígenas. Em 2022, foi aprovada uma lei que substitui o termo Dia do Índio.
“O termo índio vem com o termo de colonização, pra diminuir e generalizar mais de mil etnias indígenas que nós tínhamos aqui no Brasil a um termo só, um termo genérico, uma coisa, na verdade, é o índio. Então, a lei 14.422 de 2022 vem justamente pra mostrar que nós temos vários indígenas, várias culturas, e não generalizar em torno de uma figura criada. Então, são povos indígenas, não o índio. Então, quando você traz o indígena pra conversar com as crianças, com os professores, você vai demonstrar que aquela ali é uma cultura de inúmeras. E aí você descaracteriza essa figura de índio de cocar e colar que a gente desenha e pinta na escola como a gente fazia há anos. Hoje a gente já está em um movimento de fazer valorizar essa cultura indígena”, detalhou a historiadora e formadora Gabriela Santos.
Painel em homenagem aos povos indígenas na Escola Municipal Professora Maria Diniz de Almeida, em Itaquaquecetuba
TV Diário/Reprodução
“Essa nova forma de respeito de tratar uma cultura específica. Aí nós trouxemos nas reuniões de professores formações sobre esse tema, foi uma sequência de reuniões. E como finalização, solicitamos uma palestra com o representante da etnia Kaimbé pra reforçar tudo isso que foi dito nas reuniões, foram trabalhados com os estudantes na sala de aula”, disse a coordenadora pedagógica Luana Ribeiro.
“Pra mim é gratificante. Eu falo que o território escolar é um território sagrado. Eu tenho isso, tenho o maior respeito pelos professores, por tudo isso que nós temos como aprendizado. Eu, como cacique do meu povo, estar dentro desse território, pra mim é primordial, primeiro porque aqui se forma a sociedade. Então, nós estamos no berço de uma criação da sociedade e eu me representar perante todos esses alunos, isso aqui não vai se perder nunca, isso vai se levar pra toda uma vida”, contou o cacique Alex.
Mais do que entender, vale a pena sentir a energia das crianças no canto indígena, reverenciando a floresta.
“Não queremos nada mais, nada menos, o que é direito nosso, nosso direito ancestral, nosso direito à terra, direito à vida e direito à nossa família, nossa cultura livre. Gratidão!”, disse o cacique aos alunos.
Jogos Indígenas
Em Santa Isabel, a Secretaria Municipal de Educação realiza o encerramento dos "Jogos Indígenas" nesta quarta-feira. O professor de educação física Caique Monteiro acredita que o ensino da cultura dos povos indígenas também pode ser realizado através do esporte.
“Nós temos que ter essa valorização da cultura indígena, que é muito rica pro nosso país. E é muito legal eles terem essa questão da autonomia, de saber o porquê, de saber o histórico, a origem e eles mesmo pesquisarem e trazer pra escola. Nessa união que nós conseguimos fazer desde o início do primeiro bimestre, eles mesmo finalizaram com a celebração dos jogos indígenas. O objetivo principal, hoje, é a união, porque os Jogos Indígenas Mundiais têm o objetivo de unir os povos, as etnias, pra celebrar a cultura. Eu trouxe isso pra escola, poder unir as salas de aula, as salas que são diferentes, pra que eles trabalhem em equipe e, a partir daí, consigam desenvolver as habilidades motoras”.
Corrida de tora foi adaptada pelos alunos das escolas de Santa Isabel
TV Diário/Reprodução
Os exercícios praticados pelos alunos são adaptações de atividades indígenas, com materiais disponibilizados pela própria escola.
"Eles lembram que a gente tem que ter a segurança do próximo, trabalhar em união e eles mesmo conseguem confeccionar esse material em aula. Por isso é importante iniciar lá no começo do primeiro bimestre, para que eles tenham muita vivência desse material. Nesse bimestre nós conseguimos organizar a corrida de tora, o arremesso de lança, a corrida tradicional. Também fizemos o cabo de força e a peteca, a vivência da peteca, que eles gostam bastante também, porque a gente consegue construir a peteca durante as aulas também. Como está sendo desenvolvido com o 3º, 4º ano e 5º, o 1º e 2º a gente já dá o embasamento, traz atividade um pouco mais simples pra eles, porque eles tão em desenvolvimento ainda. A partir daí, eles conseguem trazer esse histórico que eles tiveram no ano anterior pra poder fazer a atividade”, disse o professor.
O educador também destaca que a atividade é feita de forma interdisciplinar e também conta com a colaboração dos demais professores. "A professora de sala, por ter mais tempo, traz essa questão histórica, tem mais tempo pra poder desenvolver isso. E o professor de educação física consegue fazer essa parceria com a professora, trazendo as atividades da parte prática".
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