Representatividade na área da saúde ainda é pequena. Estudante saiu de Minas Gerais para estudar medicina em Mogi das Cruzes. De acordo com o Conselho Federal de Medicina, números de médicos negros é baixo
Nos consultórios ou nos hospitais do Alto Tietê é muito raro encontrar médicos negros. De acordo com o Conselho Federal de Medicina, só 3% dos profissionais são negros. Uma situação que não favorece os poucos que conseguem trabalhar na área da saúde.
Eduardo Henrique Graciano mudou de Minas Gerais para estudar medicina em uma universidade de Mogi das Cruzes. Ele é o primeiro da família que está indo atrás do sonho de se tornar médico.
Para isso foi preciso muita dedicação aos estudos e determinação para não desistir do sonho. “Desde pequeno a figura do médico foi me apresentada como uma pessoa importante. Uma pessoa que tinha ferramentas, tinha uma maneira de estar ajudando alguém com mão de obra com conhecimento. Eu sempre quis ser uma pessoa e ter esse tipo de importância, ajudando pessoas, principalmente, as pessoas próximas a mim. E acho que a medicina vai ser uma ferramenta útil para que eu possa estar fazendo isso.”
Graciano sabe o quanto representatividade importa. O estudante disse que nunca passou por uma consulta com um médico negro. “Na televisão a gente já viu, na internet, mas eu nunca fui atendido por um médico negro. Eu trabalhei em hospital e no hospital que eu trabalhei em Minas Gerais eu não conheci no exercício da função. Depois que me mudei para cá, eu conheci pessoas que se formaram, mas ver médicos não. Para pessoas próximas a mim pode ser um incentivo.”
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2000 e 2017, o número de pretos e pardos graduados em universidades aumentou quase quatro vezes. Eeles já representam 50% dos alunos do ensino superior em geral.
Quando o assunto é a área da saúde, a representatividade ainda é pequena. De acordo com dados do Conselho Federal de Medicina de 2020, só pouco mais de 3% dos médicos no país são negros.
Amanda Martins Ribeiro dos Santos faz parte dessa estatística e espera que esse percentual cresça em um futuro próximo. A médica se formou em 2019, e faz residência em radiologia em um centro de diagnósticos de Mogi das Cruzes.
No dia a dia de trabalho, Amanda conta já ter passado por situações de racismo. “Eu já sofri e eu acho que ninguém está isento disso. Eu percebo que muitas vezes é algo estrutural, um preconceito e outras é por racismo e a pessoa simplesmente não gosta de pessoa preta. Já sofri os dois tipos tanto na faculdade quanto formada. E eu percebo que as pessoas têm esse preconceito porque não veem com frequência médicos pretos e isso influencia muito. Porque quando você vê com uma certa frequência torna-se algo comum, habitual.”
A psicóloga Denise Barrozo sabe bem como os pacientes que sofrem racismo se sentem. Ela explica que o negro conseguiu mais espaço no mercado de trabalho nos últimos anos, mas ainda faltam oportunidades. “Geralmente, quando os meus pacientes me procuram é justamente procurando por um psicólogo negro. Existe essa procura intencional e existe essa procura de que vá entender os sentimentos, o que estou passando. Elas têm histórias além de ser uma pessoa negra e querem ser compreendidas enquanto pessoas negras.”
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