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Volume de chuva nas represas do Alto Tietê cai 17,5% em pouco mais de oito anos, aponta levantamento

Por Nova TV Alto Tiete em 31/01/2023 às 10:16:25

Apuração feita pelo g1 com dados da Sabesp mostra que a pluviometria tem caído com o decorrer dos anos. Especialista em recursos hídricos cita mudanças climáticas entre as possíveis justificativas. Represa do Rio Jundiaí, em Mogi das Cruzes; registro feito no dia 28 de fevereiro de 2022

Leandro Melo/TV Diário

As mudanças climáticas, que provocam consequências cada vez mais perceptíveis, já refletem no volume de chuva registrado pelas represas do Sistema Produtor Alto Tietê (Sipat). De acordo com os dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), tem chovido menos na região.

Entre janeiro de 2005 e novembro de 2013, os reservatórios que abastecem o Alto Tietê tiveram uma média mensal de 119,8 milímetros de chuva. No período de janeiro de 2014 a novembro de 2022, o índice foi de apenas 98,8 mm. A redução foi de 17,5% em pouco mais de oito anos (confira abaixo o gráfico com a pluviometria anual).

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ENTENDA: como é calculado o volume de chuva

O levantamento, realizado pela reportagem do g1, conta com dados do portal de Situação dos Mananciais, que é atualizado diariamente pela Sabesp. Foram considerados os volumes acumulados em cada mês em toda a série histórica, que na região teve início em 2005.

O Sipat é composto pelas represas Paraitinga, Ponte Nova, Biritiba, Jundiaí e Taiaçupeba, que estão distribuídas entre os municípios de Salesópolis, Biritiba Mirim, Mogi das Cruzes e Suzano. Juntos, os cinco reservatórios abastecem 4,7 milhões de pessoas em parte do próprio Alto Tietê e também na zona leste da capital paulista.

Histórico mensal

Além da pluviometria observada diariamente e o acumulado mensal, a Sabesp também divulga a média histórica do mês, que é calculada com base no índice registrado em anos anteriores. O balanço aponta que no primeiro período analisado – que neste caso não considera os meses de 2005, pois não havia histórico até então –, o volume de chuva superou o esperado 41 vezes. No segundo, de 2014 a 2022, a média histórica foi ultrapassada em apenas 37 meses.

Se comparadas as vezes em que o registro ficou abaixo do esperado o resultado é ainda mais alarmante. De 2006 a 2013 o volume de chuva no mês deixou de atingir a média 45 vezes. Nos anos seguintes, 69 meses tiveram pluviometria inferior à expectativa.

Média anual

Os dados também evidenciam a redução na pluviometria média de cada ano – soma do acumulado mensal, dividido pelo número de meses. De 2005 a 2013, o índice sempre ficou acima de 100 milímetros. Já no intervalo de 2014 a 2021, isso só ocorreu três vezes: cinco anos tiveram média de chuva no mês menor do que 100 mm.

Desde o início da série histórica, o ano que teve a maior média mensal no volume pluviométrico foi 2009, quando ficou em 149,9 milímetros. Seis anos depois, em 2015, os reservatórios se aproximaram do número, mas continuaram abaixo. Já o menor apontamento foi observado em 2018, quando foram registrados 78,6 mm, seguido por 2021 com 80,9.

Mudanças climáticas

O especialista em recursos hídricos Samuel Barreto, que é gerente nacional de água da ONG The Nature Conservancy Brasil, lembra que entre 2014 e 2015 a Grande São Paulo foi duramente afetada pela pior seca de sua história. Um cenário que, além de ter contribuído para a queda no volume de chuva dos últimos oito anos, veio acompanhado de uma tendência de queda.

Destaca ainda que as represas do Sistema Alto Tietê são as que registram o menor volume operacional em relação aos outros seis mananciais que abastecem o estado. Para piorar, o indicador está em redução: de 2005 a 2013 estava em 57,6%, mas no intervalo a partir de 2014 foi para 50,2% na média diária. As mudanças climáticas, regionais e globais podem estar entre as justificativas.

“O prognóstico que os cientistas do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, que tem dito e mostrado as evidências ao longo de todos os relatórios, tem se confirmado. São extremos acontecendo com maior frequência e intensidade. A gente vê [por exemplo] chuvas absurdas em um período de tempo muito curto ou períodos de seca também muito estendidos”, comenta Barreto.

“Onde a gente pode evidenciar essa mudança climática é pela água, pelo excesso ou pela falta. No caso do Alto Tietê preocupa porque, considerando a questão do abastecimento público, é uma região responsável por abastecer mais de 4,5 milhões de habitantes na Grande São Paulo, além de toda atividade produtiva na indústria, na agricultura. É uma região que produz os alimentos, região dos hortifrutigranjeiros. É importante pro turismo”.

Represa de Paraitinga, em Salesópolis; foto registrada em 31 de dezembro de 2021

Aniele Santos/TV Diário

Samuel diz que ainda é difícil estimar o que virá nos próximos anos, mas ressalta que as expectativas atuais são preocupantes. Exatamente por isso, é preciso atuar o quanto antes para que a água não faça falta no futuro. Sem controle da chuva, resta às autoridades e população em geral agir em uma gestão integrada dos recursos hídricos, algo possível por meio da recuperação das bacias, fontes e da qualidade da hidrosfera.

“Talvez a gente esteja até em uma era de incertezas. Diante de todas essas incertezas, a gente tem que procurar, ao máximo, criar essa camada de segurança hídrica na quantidade e qualidade de água. [Devemos agir] no tratamento da água poluída; na recuperação das nascentes; no uso sustentável da água, porque não dá pra usar mais do que a capacidade de repor; na recuperação do solo para que essa água possa infiltrar, na restauração; na conservação das florestas”, lista Samuel.

“Uma notícia importante é que as soluções baseadas na natureza, como a restauração florestal, a conservação das florestas, é uma aliada nessa questão da segurança hídrica. Ela pode endereçar até 40% dos impactos e dos efeitos das mudanças climáticas. A gente não pode abrir mão dessa medida combinada com outras ações. E, sem dúvida, também cobrar das autoridades para que façam a sua parte”, conclui.

O que diz a Sabesp

O g1 questionou a Sabesp sobre o que tem sido feito pela proteção dos recursos hídricos. Por meio de nota, a companhia informou que, desde a crise hídrica de 2014, os investimentos tornaram o sistema integrado mais robusto e flexível, sendo possível abastecer áreas diferentes com mais de um sistema.

"Os investimentos são parte de conjunto de medidas para segurança hídrica, que inclui o novo sistema São Lourenço e a interligação da bacia do Paraíba do Sul com o Cantareira, além da ampliação da infraestrutura e gestão da demanda noturna para redução de perdas na rede", pontuou.

Disse ainda que não há risco de desabastecimento neste momento na região metropolitana, mas que orienta o uso consciente da água em qualquer época. "Neste momento, o Sistema Integrado opera com 51,2%, nível superior aos 38,1% de 2021, quando não houve problemas no abastecimento".

A Sabesp compartilha dicas e orientações para a população em seu site.

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Fonte: G1

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