ECONOMIA
Dados do Banco Central do Brasil (BC) obtidos com exclusividade via Lei de Acesso à Informação mostram que mais de 35 milhões de transações de R$ 0,01 foram feitas no ano passado. Transação de R$ 2 bilhões foi a maior da história. VOCÊ JÁ FEZ PIX DE UM CENTAVO?As transações por PIX em 2023 foram de R$ 0,01 a R$ 2 bilhões em uma única transferência. Os dados são do Banco Central do Brasil (BC) obtidos com exclusividade pela TV Globo via Lei de Acesso à Informação. Em 2023, foram mais de 35 milhões de transações de R$ 0,01 realizadas no Brasil no ano passado. Além disso, a transferência de R$ 2 bilhões feita em 2023 foi a maior da história do PIX.Desde a criação do sistema instantâneo de pagamentos, as transferências de R$ 0,01 foram repetidas mais de 70 milhões de vezes. Isso significa que o equivalente a R$ 700 mil foram transferidos desta forma.O BC não tem estudos que ajudem a explicar esse comportamento. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) diz que não monitora as operações de PIX de centavos e que por isso não tem elementos para analisá-las.Para Joelson Sampaio, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), as transferências de R$ 0,01 podem ser uma forma de verificar se uma chave PIX está funcionando. Outra possibilidade é a função de escrever uma pequena mensagem no campo "descrição" como forma de comunicação.PIX na hora da paqueraO artista independente Jason Goulart deu o último recado ao "crush" com um PIX de R$ 0,01, depois de ter sido bloqueado durante uma discussão."Como a gente já tinha feito algumas coisas juntos, como dividir uma conta, acabei ficando com o PIX dele salvo na memória da conta bancária. E com R$ 0,01 respondi as mensagens que ele me mandou antes de me bloquear", lembra Jason."Ele achou um absurdo ter enviado R$ 0,01 para terminar a discussão. Ele me desbloqueou para responder à mensagem do PIX e nunca mais nos falamos."De acordo com o BC, as instituições envolvidas na transação têm acesso ao texto da "descrição" do PIX. Mas não há previsão de algum tipo de sanção por suposto uso inadequado do sistema."Não há monitoramento [das mensagens]. Mas, a critério do participante, é possível limitar o uso dessas mensagens, por exemplo, caso tenha teor discriminatório ou palavra ofensiva", explica o BC, em nota.Nas redes sociais, diversos memes mostram comprovantes de transação de R$ 0,01 e as respectivas descrições. Em 2022, um homem de 67 anos foi preso no Ceará após mandar mensagens de importunação à ex-mulher por meio de PIX de R$ 0,01.Volume de dinheiro movimentado via PIX cresce mais de 3 vezes em 2023Campanhas de bancos estimulam transferênciasArthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação, aponta que alguns bancos oferecem desconto nas cestas das contas caso os clientes façam uma quantidade determinada de PIX. Para isso, os centavos viram uma solução."Não há nada que impeça o uso desse tipo de recurso. Mas, se ele está sendo usado simplesmente para conseguir um desconto, quer dizer que a política de desconto não está funcionando muito bem. Em regra, não há nada de errado em fazer isso — fora a utilização do sistema para algo que não é a finalidade dele", afirma Igreja.PIX de bilhõesEm 2020, ano em que o PIX foi lançado, o maior valor transferido em uma única transação foi de R$ 100 milhões. No ano passado, a maior quantia chegou a R$ 2 bilhões, atual recorde histórico.Até então, a maior transferência de recursos registrada por meio do PIX havia sido de R$ 1,2 bilhão, em dezembro de 2022.Segundo o BC, o PIX é um meio de pagamento "bastante seguro" e que conta com mecanismos próprios e exclusivos de segurança. Independentemente do valor, é sempre importante o usuário estar atento para conferir as informações antes de efetivar a transação — como o destinatário e a quantia."O limite de valor é estabelecido pela instituição de relacionamento do usuário, conforme avaliação do perfil de risco. Cabe ao usuário escolher o meio de pagamento que julgar mais conveniente."Arthur Igreja alerta que, após uma transação de valor muito alto, que pode ser ocasional, é importante reduzir novamente o limite do PIX na instituição bancária. "Caso a pessoa caia num golpe ou tenha o smartphone roubado ou furtado, quem tiver a posse desse aparelho, se tiver recurso em conta, vai poder fazer uma transação de um valor muito alto, então é muito perigoso."