Pela primeira vez o Censo 2022 do IBGE mostra como a ocupação da cidade de São Paulo mudou entre 2010 e 2022. Em mais da metade dos 96 distritos paulistanos houve queda ou estagnação da população. O Parque Jardim das Perdizes foi inaugurado em 2016 no distrito da Barra Funda. Ao redor dele foram lançadas diversas torres residenciais
Rodrigo Rodriges/G1
A cidade de São Paulo registrou um discreto aumento de 1,7% em sua população entre 2010 e 2022, mas essa variação ocorreu de forma muito diferente entre os diferentes bairros. Dados do Censo Demográfico 2022 divulgados na manhã desta quinta-feira (21) mostram que, enquanto a maioria dos distritos tiveram queda ou estagnação populacional, o distrito da Barra Funda registrou aumento de 132,5% nos moradores, o maior crescimento de todos os 96 distritos.
A Bela Vista, por outro lado, registrou a maior queda, de -13,6%, seguida do Alto de Pinheiros, que perdeu 13,4% de sua população.
O distrito mais populoso segue sendo o Grajaú, com 384.873 habitantes, um aumento de 6,7% em relação aos dados de 2010. Só nesse distrito há mais pessoas do que 98% das cidades brasileiras.
Compare abaixo a variação dos moradores de cada distrito da cidade:
População por distrito da capital
Verticalização e esvaziamento
Segundo Jefferson Mariano, analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em São Paulo, os motivos dessa evolução variam de acordo com cada distrito da capital.
O caso da Barra Funda "é um ponto fora da curva", de acordo com ele.
"A Barra Funda realmente passou por esse processo de verticalização, expansão de novas unidades habitacionais e a substituição de alguns galpões por grandes conjuntos de unidades habitacionais, no formato apartamento", disse Mariano.
Ele ressalta que muitos distritos passaram pela verticalização, como a própria Bela Vista e a Consolação, mas com apartamentos pequenos que comportam poucos habitantes. "Tem também um processo de verticalização e de muitos prédios subindo, muitos de estúdios."
A violência, de acordo com ele, também explica o processo de esvaziamento de alguns distritos como Bela Vista.
"De uma forma geral, existe, na cidade de São Paulo, a percepção da questão do esvaziamento do centro, da questão da violência. Isso, provavelmente, também deve ter impactado alguns distritos periféricos", diz o analista do IBGE.
"Tem dois exemplos importantes aqui na periferia de São Paulo. Tem a Cidade Tiradentes, que passou por uma redução expressiva, e Brasilândia também. Então, é possível que tenha uma relação com esse aspecto. E no caso da região central, é algo que já se observa já há alguns anos, e o Censo ratificou essa informação."
Da Freguesia do Ó à Barra Funda
Quando o IBGE coletou os dados do Censo Demográfico de 2010, o administrador Valdir Cardoso de Barros ainda morava em uma casa na Freguesia do Ó e nem pensava em morar no apartamento que acabou comprando na Barra Funda, do outro lado do Rio Tietê, no centro expandido da capital.
Seria apenas um investimento, mas uma experiência traumática mudou tudo. "Eu mudei pra cá quando estava nascendo esse complexo. Foi em 2016 que foi o lançamento disso aqui. Eu acabei comprando em 2017. Foi quando eu sofri um assalto na residência e acabei optando por ter um pouco mais de segurança. Acabei partindo para um apartamento. E aqui hoje, a gente se sente totalmente seguro."
Já são oito anos morando no bairro. Desde então, Valdir se tornou síndico do prédio em que ele mora e de outra torre, também na Barra Funda. Nesse tempo, viu de perto o crescimento populacional da região.
"A região da Barra Funda é uma região que está crescendo tremendamente", explica ele. "A gente percebe isso no entorno do bairro de Pompeia, Perdizes, Água Branca... Os novos empreendimentos estão vindo, realmente."
Um dos motivos, na opinião do síndico, tem a ver com a localização privilegiada. "É um ponto central de localização, saída de vários acessos. Das rodovias Castelo Branco, Anhanguera, Bandeirantes. Então, um ponto de fácil acesso para qualquer um que está aqui."
*Colaboraram Kayan Albertin, Guilherme Luiz Pinheiro e Wil Nogueira