Choque econômico promovido pelo governo de Javier Milei melhora os números da economia do país no papel, mas intensifica a crise econômica para a população. Javier Milei, presidente da Argentina
O Banco Mundial mudou suas perspectivas para a economia argentina neste ano, segundo relatório publicado na última terça-feira (11).
A instituição passou a prever uma queda de 3,5% para a atividade econômica do país vizinho, uma piora de 0,8 ponto percentual (p.p.) em comparação às estimativas de janeiro, de recuo de 2,7%.
Para 2025, no entanto, as projeções são mais otimistas. A expectativa é que o país volte a se recuperar, "com um crescimento de 5%, à medida que os desequilíbrios econômicos forem resolvidos e a inflação diminuir" no país.
Sob o comando de Javier Milei, a Argentina vive um período de melhora na economia. A inflação, que está próxima dos 300% no acumulado em 12 meses, teve o quarto mês consecutivo de desaceleração em abril, com alta de 8,8% — a primeira variação de apenas um dígito em um semestre.
Com uma melhora no quadro inflacionário, o banco central argentino também reduziu sua taxa básica de juros pela metade. Os juros, que estavam em 80% ao ano em abril, passaram para 40% ao ano em maio, o que tirou o país da liderança dos maiores juros do mundo.
Os ajustes de Milei
Após assumir a presidência, em dezembro passado, Milei promoveu uma série de ajustes que levaram a um "choque na economia". As tarifas de água, gás, luz, transporte público e serviços essenciais deixaram de ser subsidiadas pelo governo, o que promoveu um aumento expressivo nos preços.
Além disso, o presidente também paralisou obras federais e interrompeu o repasse de dinheiro para os estados, visando reduzir os gastos públicos.
As medidas tiveram efeitos: a inflação, depois do choque inicial, vive um período de desaceleração, os juros começaram a cair e, a notícia mais importante, o país registrou o seu primeiro superávit (quando as receitas do governo são maiores que as despesas) desde 2008 no primeiro trimestre desse ano.
Isso fez com que o Fundo Monetário Internacional (FMI) fechasse um acordo que permite o desembolso de cerca de US$ 800 milhões para os cofres públicos da Argentina, destacando o "primeiro superávit fiscal trimestral em 16 anos, a rápida queda da inflação, a mudança de tendência das reservas internacionais e uma forte redução do risco soberano".
Especialista destacam, porém, que o superávit é uma consequência direta da redução dos gastos, e não da elevação das receitas obtidas pelo governo — o que pode não ser sustentável no longo prazo.
Para isso, milhares de demissões ocorreram, assim como os salários e aposentadorias tiveram uma queda importante. A consequência é uma intensificação da crise econômica que assola o país e já colocou 41,7% dos 46,7 milhões dos argentinos abaixo da linha da pobreza, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec).
Essas condições econômicas têm impactado os níveis de consumo da população e até as carnes - que representam uma das maiores tradições argentinas, o churrasco - estão perdendo espaço: até março, o consumo de carnes no país estava no menor nível em 30 anos, segundo a Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados da Argentina.
A expectativa é que, com o consumo menor, a inflação possa arrefecer cada vez mais, um dos principais compromissos de Milei desde sua campanha eleitoral.
Argentinos estão comendo menos carne