Segundo o ministro José Múcio Monteiro, a indústria bélica e a empresa da Austrália não fecharam o negócio, mas uma nova empresa está interessada em comprar a Avibras. Avibras, em Jacareí
Claudio Vieira/Sindicato dos Metalúrgicos
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, informou que a empresa australiana que estava negociando a compra da Avibras desistiu do negócio, mas que a indústria bélica brasileira recebeu uma nova proposta para a venda de parte da empresa. Ele não revelou o nome nem o país de origem da empresa interessada na compra da Avibras.
No início de abril, a Avibras divulgou um comunicado sobre uma negociação de venda para a empresa australiana DefendTex. A nota dizia que as tratativas estavam avançadas, mas, de acordo com o ministro da Defesa, os australianos desistiram do negócio.
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A declaração foi feita na última quinta-feira (13) durante um evento online em comemoração aos 25 anos do Ministério da Defesa. José Múcio disse ainda que uma nova empresa demonstrou interesse na compra da Avibras, sem revelar de onde veio a proposta.
"Havia uma empresa da Austrália interessada, mas que essa semana disse que não está mais interessada. E hoje apareceu um novo candidato, pediu sigilo, hoje à tarde eu recebi uma carta de um país muito forte, de uma empresa, dizendo que tinha interesse em entrar nisso com 49% e o resto seria capital brasileiro. De maneira que nós estamos trabalhando para que isso aconteça. Há um interesse absoluto das forças armadas em manter a Avibras e o presidente Lula, diariamente, me cobra isso", disse o ministro no evento.
De acordo com o jornal Folha de São Paulo, a proposta foi de uma empresa da China. Segundo apuração do jornal, o interessado na compra da Avibras seria a Norinco, uma empresa estatal chinesa.
A indústria Norinco atua em diversas áreas, como no setor de defesa, com fabricação de blindados e bombas, na área militar, com a fabricação de armamentos, além de estar envolvida em segmentos petroquímicos e de construção civil, entre outras atividades.
De acordo com o site da empresa, a Norinco tem relações econômicas e comerciais com mais de 130 países e investiu no exterior, só no ano passado, quase 20 bilhões de dólares, ou seja, mais de R$ 100 bilhões no câmbio atual.
A TV Vanguarda acionou o Ministério de Defesa e a Avibras, mas os dois não quiseram comentar a negociação.
Anteriormente, a direção da Avibras chegou a admitir que a venda da Avibras é uma forma da companhia se recuperar financeiramente, manter as fábricas no Brasil e retomar a operação para poder cumprir os contratos.
A crise na Avibras já se arrasta há pelo menos uma década. Os funcionários estão há mais de dois anos sem trabalhar e sem receber salários. A Justiça homologou este ano a recuperação judicial solicitada pela empresa, essa é uma das etapas necessárias para uma possível negociação - leia mais abaixo.
Cerca de 400 funcionários da Avibras entram em licença remunerada em Jacareí
Licença remunerada
Cerca de 400 funcionários da Avibras em Jacareí encerraram em maio o período de layoff (suspensão temporária do contrato de trabalho) na empresa e iniciaram o período de licença remunerada em junho.
Ao g1, a Avibras confirmou que são cerca de 400 funcionários nessa situação e que a licença remunerada será aplicada por tempo indeterminado.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região apontou que a medida atinge, ao todo, 420 trabalhadores na unidade.
A aplicação da licença remunerada ocorre no momento em que a Avibras enfrenta uma crise financeira, que foi desencadeada há pelo menos dois anos, além de passar por uma recuperação judicial.
No fim de maio, a Justiça pediu esclarecimentos sobre as negociações envolvendo a venda da empresa a um grupo australiano.
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Avibras vive crise financeira há pelo menos dois anos
Em março, trabalhadores da Avibras fizeram uma manifestação em frente à empresa. O protesto reuniu cerca de 100 funcionários. O protesto foi para reivindicar o pagamento de salários atrasados.
Ainda segundo o sindicato da categoria, ao todo, cerca de 800 trabalhadores estão em greve e outros 400 funcionários estavam em layoff - agora em licença remunerada - sem receber os salários há mais de um ano.
O Sindicato dos Metalúrgicos alega que quer uma decisão sobre a situação, com a empresa efetuando o pagamento dos salários atrasados, já que a crise está se estendendo por anos.
Trabalhadores da avibras reivindicam salários atrasados
Recuperação judicial
Em 22 de março de 2022, a Avibras pediu recuperação judicial, alegando uma dívida de R$ 600 milhões. Em julho de 2023, credores aprovaram o plano de recuperação judicial da empresa.
A recuperação judicial serve para evitar que uma empresa em dificuldade financeira feche as portas. É um processo pelo qual a companhia endividada consegue um prazo para continuar operando enquanto negocia com seus credores, sob mediação da Justiça.
Fábrica da Avibras em Jacareí
Reprodução/TV Vanguarda
Demissões e greve
A crise na Avibras se arrasta há alguns anos. Em 18 de março de 2022, a empresa demitiu cerca de 400 trabalhadores na fábrica em Jacareí. Na época, o Sindicato dos Metalúrgicos informou que não houve nenhum comunicado prévio ou tentativa de negociação sobre medidas para evitar as demissões, como adoção de um layoff (suspensão de contratos), por exemplo.
A fábrica alegou que teve de adotar "ações de reestruturação organizacional da empresa, mantendo as atividades essenciais para o cumprimento dos compromissos contratuais assumidos junto aos seus clientes". Ao mesmo tempo em que fez o corte, pediu à justiça a recuperação judicial alegando dívida de R$ 600 milhões.
A entidade recorreu à Justiça do Trabalho e conseguiu reverter o corte porque o juiz entendeu que não seria possível ter recuperação, se não havia força de trabalho na empresa.
Com a readmissão, a empresa colocou os funcionários em layoff. Os trabalhadores da Avibras de Jacareí entraram em greve, reivindicando a garantia de estabilidade para todos os funcionários, pagamento dos salários atrasados e também para que a empresa adote um sistema de trabalho rotativo, no qual os grupos se revezem entre o layoff e o trabalho na fábrica.
Trabalhadores da Avibras protestam contra atrasos de salário e estatização em trecho da Rodovia dos Tamoios
Divulgação
A Avibras
A Avibras Aeroespacial é a maior indústria bélica do país e foi fundada em 1961 por engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos (SP). Ela é uma das primeiras empresas nacionais a atender o setor aeroespacial.
A empresa desenvolve tecnologia para as áreas de Defesa e Civil. A organização foi uma das primeiras no Brasil a construir aeronaves, desenvolver e fabricar veículos espaciais para fins civis e militares.
Presente no mercado nacional e internacional, a empresa tem sede em Jacareí, no interior de São Paulo, e desenvolve diferentes motores foguetes para a Marinha do Brasil e para a Força Aérea Brasileira, além de produzir sistemas fixos ou móveis de C4ISTAR (Comando, Controle, Comunicação, Computação, Inteligência, Vigilância, Aquisição de Alvo e Reconhecimento) e Aeronave Remotamente Pilotada (ARP) - o Falcão.
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