No dia anterior, a moeda americana fechou em queda de 1,03%, cotado em R$ 5,4114 — menor nível desde junho —, enquanto Ibovespa registrou recorde de fechamento, aos 135.778 pontos, após subir 1,36%. Painel na sede da B3, em São Paulo, Ibovespa, bolsa, Bovespa
Nacho Doce/Reuters
O dólar abriu em alta nesta terça-feira (20), em um movimento de correção da queda acentuada observada no pregão anterior. No entanto, apesar da alta, investidores continuam atentos e otimistas com o cenário de juros nos Estados Unidos.
A expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deve iniciar um ciclo de cortes em suas taxas de juros, hoje entre 5,25% e 5,50% ao ano, beneficia os ativos considerados de risco nas últimas semanas, em detrimento do dólar.
Nesse sentido, a moeda brasileira, assim como moedas de outros países, ganharam força sobre o dólar, ao mesmo tempo em que as bolsas de valores no Brasil e no mundo vivem uma sequência de altas. (entenda mais abaixo)
Ontem, o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, registrou seus recordes históricos e inverteu a queda acumulada em 2024, até aqui. Agora, a bolsa acumula alta de 1,19%.
No radar dos investidores estão, justamente, dois acontecimentos dos próximos dias que podem trazer mais pistas sobre quais os próximos passos da condução do Fed em relação aos juros nos Estados Unidos.
Na quarta-feira, a instituição divulga a ata de sua última reunião, que traz mais informações sobre o que os dirigentes estão observando e pensando sobre a economia.
Na sexta, os investidores estarão atentos ao discurso do presidente da instituição, Jerome Powell, no Simpósio de Política Econômica de Jackson Hole. Lá, ele deve compartilhar uma visão mais detalhada que o Fed tem sobre a situação da economia dos EUA, que também influencia na decisão de juros prevista para setembro.
No cenário interno, investidores repercutem falas de Gabriel Galípolo, diretor do Banco Central do Brasil (BC), e de Gustavo Guimarães, secretário-executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento. Hoje, ainda, o ministro da Fazenda Fernando Haddad e o presidente do BC Roberto Campos Neto discursam em uma convenção do banco BTG Pactual.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
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Dólar
Às 09h, o dólar subia 0,52%, cotado a R$ 5,4397. Veja mais cotações.
No dia anterior, a moeda americana teve queda de 1,03%, cotada em R$ 5,4114. Na mínima do dia, chegou a R$ 5,3769.
Com o resultado, acumulou:
queda de 1,03% na semana;
recuo de 4,29% no mês;
alta de 11,52% no ano.
Ibovespa
O Ibovespa começa a operar às 10h.
Na véspera, o índice fechou em alta de 1,36%, aos 135.778 pontos, o maior patamar de fechamento da história. Na máxima do dia, chegou aos 136.179 pontos, também o recorde do índice.
Com o resultado, o índice acumulou:
alta de 1,36% na semana;
avanço de 6,37% no mês;
perdas de 1,19% no ano.
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O que está mexendo com os mercados?
Os agentes do mercado financeiro no mundo inteiro estão animados com a perspectiva de corte das taxas de juros nos Estados Unidos e esse é o principal fator de atenção ao longo de toda esta semana, principalmente com a ata do Fed e o Simpósio de Jackson Hole.
Uma queda nos juros dos EUA reduz os rendimentos dos títulos do Tesouro americano (as Treasuries) e força os investidores a tomarem mais risco para terem rentabilidades melhores. Isso beneficia o mercado de ações como um todo.
Na quarta-feira, o Fed deve divulgar a ata de sua última reunião, em julho. O BC americano manteve as taxas de juros americanas inalteradas entre 5,25% e 5,50% ao ano, mas sinalizou que cortes podem começar no próximo encontro, marcado para setembro.
A inflação, principal dado observado pelo Fed para tomar suas decisões, continua acima da meta de 2% ao ano, mas mostra uma desaceleração. Em julho, o acumulado em 12 meses foi de 3,2%, mas os preços que traziam preocupação ao Fed mostraram um bom comportamento.
Já os dados do mercado de trabalho americano, que também podem prejudicar a inflação por conta de um aumento do consumo, também foram mais fracos do que o mercado esperava no último mês. Tanto que analistas chegaram a temer que uma recessão econômica pudesse estar a caminho nos EUA. Esse medo se dissipou nos dias seguintes, já que dados de atividade econômica na semana passada não confirmaram o receio.
O Fed se esforça para manter a inflação comportada, mas também quer evitar que a economia sofra uma paralisação brusca. Com isso, investidores e especialistas esperam que a instituição promova um corte nos juros de pelo menos 0,25 ponto percentual na próxima reunião — uma forma de não deixar a economia brecar, mas com parcimônia para não pressionar a inflação.
Para confirmar essas previsões que o mercado observa a ata da reunião do Fed na quarta-feira e o discurso de Jerome Powell na sexta. O Simpósio de Jackson Hole é uma convenção nos EUA que reúne as principais autoridades políticas e econômicas do mundo para falar sobre a economia.
Investidores atentos à inflação e contas públicas
No Brasil, a questão fiscal segue no centro das atenções, enquanto o mercado tem dúvidas sobre a capacidade do governo arcar com suas contas em 2024.
Para tranquilizar essas percepções, o secretário-executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento, Gustavo Guimarães, afirmou nesta segunda-feira (19) que a área econômica do governo tem todas as ferramentas necessárias para cumprir a meta fiscal de 2024 de déficit zero (ou seja, quando o valor das despesas não supera o das receitas) e que vai propor "em breve" que todos os setores do governo revisem suas despesas com políticas públicas.
"A gente está com todos os instrumentos para cumprir a meta. Obviamente que dentro de um cenário de risco que não tenha nenhum risco muito fora da curva ou inesperado", disse.
O secretário citou as enchentes no Rio Grande do Sul e seus efeitos como um exemplo de choque imprevisível, mas disse que a pasta não enxerga riscos de mesma magnitude no cenário atual.
Segundo Guimarães, o lado da receita ainda representa um desafio para a área econômica, mas disse ser possível que uma receita não recorrente se realize no futuro e dê ao governo mais espaço orçamentário.
Ele disse também que não é possível afirmar se o governo precisará impor maior restrição fiscal este ano a partir da divulgação do próximo relatório bimestral de receitas e despesas, previsto para 22 de setembro, e que o "tempo dirá se haverá novo congelamento" de gastos.
Por aqui, ainda, investidos continuam repercutindo recentes afirmações de Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do BC. Ontem, ele reforçou que a instituição vai analisar com cuidado os dados da economia brasileira para tomar a decisão de juros para o país.
Galípolo afirmou que o BC vai obter "o máximo de dados" e vai "estar aberto" à todas as opções para decidir o novo patamar da taxa Selic, em setembro. Como mostrou o g1, o Comitê de Política Monetária (Copom) endureceu seu discurso na reunião de julho, e disse que pode voltar a subir a taxa Selic se julgar necessário.
O Copom demonstrou preocupação com a situação da economia global, com a cotação do dólar e com as contas públicas do país. São fatores que poderiam piorar a expectativa para a inflação brasileira, e cabe ao BC regular a taxa de juros para combater uma alta dos preços.
Galípolo voltou a destacar que todos os diretores estão dispostos a elevar a Selic "sempre que necessário" para levar a inflação à meta de 3%.
A opinião de Galípolo é vista com atenção especial porque ele é o favorito para ocupar a presidência do BC a partir do ano que vem. Segundo o blog do Camarotti, ele deve ser o indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o próximo mandato da instituição e sua indicação sai nas próximas semanas.
O mercado temia que o indicado de Lula pudesse sucumbir a pressões políticas. No evento desta segunda-feira, Galípolo disse que jamais se sentiu pressionado a ter qualquer tipo de atitude dentro da instituição desde que foi indicado pelo governo.
"O presidente (Lula) tem tido uma atitude republicana", comentou.
Por fim, o Banco Central do Brasil (BC) divulgou nesta segunda-feira mais uma edição do boletim Focus — relatório que reúne as projeções para os principais indicadores econômicos do país com base na opinião de economistas do mercado financeiro.
A expectativa para a inflação brasileira subiu pela quinta semana consecutiva, com o mercado estimando um IPCA de 4,22% até o fim do ano. A meta de inflação do BC é de 3% para 2024, podendo oscilar entre 1,50% e 4,50%.
As expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) e a taxa de câmbio até o fim do ano também aumentaram. Para o PIB, economistas esperam um crescimento de 2,23%. Já a taxa de câmbio é estimada em R$ 5,31 até dezembro.
Outra novidade nesta edição do Focus é a perspectiva de uma Selic, taxa básica de juros, maior em 2025: o mercado estima que a taxa deve encerrar o próximo ano em 10% ao ano.
Os números mostram como a situação não é de festa, apesar de um clima mais tranquilo. O mercado acredita que uma nova alta pode vir pela frente, caso a inflação no país continue subindo.