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Ibovespa tem melhor mês desde novembro, mas dólar não segue o entusiasmo; entenda por quê

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Por REDAÇÃO: NOVA TV ALTO TIETÊ em 30/08/2024 às 19:00:02

Foto: G1 - Globo

O índice teve uma alta de 6,54% no mês e fechou aos 136.004 pontos, no maior desempenho em nove meses. Dólar fechou agosto cotado a R$ 5,6325, uma queda de apenas 0,38% no mês. Ibovespa dispara em agosto, mas dólar fica no zero a zero

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Agosto acumulou a maior alta em nove meses para o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3. O índice teve uma alta de 6,54% no mês e fechou aos 136.004 pontos, no maior desempenho desde novembro de 2023.

O levantamento é de Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta. Esse também foi o melhor mês de agosto para o índice desde 2017.

O dólar, por outro lado, fechou o mês praticamente no zero a zero, com uma leve queda de 0,38% em relação a julho, mas ainda em patamares muito elevados, cotado a R$ 5,6325.

Esse é um movimento atípico. Embora dólar e Ibovespa sejam completamente independentes, suas rentabilidades costumam ser inversas — ou seja, quando um sobe, o outro cai.

Isso acontece porque uma alta do dólar costuma representar uma busca de investidores por mais segurança. Quando estão preocupados em perder dinheiro no mercado, eles mudam suas apostas para títulos do Tesouro americano, por exemplo, que são quase uma garantia de lucro.

Esse dinheiro costuma sair justamente das bolsas de valores, em especial de países emergentes, em que os ganhos das empresas são mais arriscados. O efeito costuma ser uma desvalorização das ações das empresas e queda dos principais índices, como o Ibovespa.

Em agosto, tudo foi diferente. O Ibovespa teve um mês muito positivo, renovando seus recordes em vários pregões consecutivos. Foi neste mês que o índice chegou a sua máxima histórica de 107.344 pontos, atingida na última quarta-feira (28).

Mas o dólar também teve fortes altas. Neste mês, a moeda chegou à máxima do ano, cotada em R$ 5,74. Chegou a ceder em meados do mês, mas logo retornou aos R$ 5,60.

Abaixo, o g1 explica por que dólar e bolsa contrariaram essa "lógica milenar" no mês de agosto.

Juros nos Estados Unidos

Nenhum assunto mexeu tanto com os mercados globais como as taxas de juros americanas neste último mês. Nos primeiros dias de agosto, houve pânico generalizado no mercado, que se preocupou com a possibilidade de recessão na economia americana.

O payroll, um dos principais relatórios de emprego dos Estados Unidos, mostrou que o país havia criado muito menos vagas de trabalho do que a expectativa em julho. Foram 114 mil contra as 175 mil esperadas pelo mercado financeiro.

O sentimento era de que os juros americanos, que estão no maior patamar em duas décadas, poderiam causar uma freada brusca na maior economia do mundo. Na mesma semana, contudo, ficou claro por meio de novos dados que não havia uma tragédia à vista, e o mercado voltou a se animar.

Na última sexta-feira (23), mais um marco importante chegou. O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, discursou no Simpósio de Jackson Hole e disse que "chegou a hora de mudar a política (monetária)", indicando que o momento do início dos cortes nas taxas de juros chegou. A próxima reunião acontece em setembro.

Dólar cai quase 2% e Ibovespa sobe após Powell sinalizar cortes de juros em setembro

O movimento é esperado há meses pelo mercado. Como dito, juros menores nos EUA estimulam os investidores a procurarem ativos mais arriscados para conseguir manter uma boa rentabilidade em suas aplicações. A bolsa de valores volta a ser opção, o que anima os mercados em todo o mundo.

No fim de 2023, esperava-se que o Fed começasse a cortar juros em março. As contas foram reajustadas para maio, junho, julho e chegaram a setembro. Agora, Powell confirma que os juros vão cair.

Como resultado, os investidores já começam a mover o dinheiro dos ativos seguros para os mais arriscados, o que é bom para as bolsas. Luan Aral, especialista em investimentos e câmbio da Genial Investimentos, explica que esse é o primeiro fator de influência para o bom desempenho do Ibovespa.

"A expectativa por esse corte acaba favorecendo uma entrada de risco, especialmente em países emergentes", afirma.

Aral destaca que o mercado agora tem dúvidas sobre qual será a magnitude do corte promovido pelo Fed e quanto tempo essa política mais branda com os juros deve durar. Hoje, os investidores se dividem entre aqueles que esperam uma primeira queda de 0,25 ponto percentual, e outros, de 0,50.

Nesta semana, mais uma pitada de incerteza complicou as projeções. Dados de ontem mostraram uma alta de 3% no PIB do segundo trimestre de 2024, uma atividade econômica bem acima das expectativas. Também saiu um número menor que o esperado de pedidos de seguro-desemprego, que indica um mercado de trabalho forte.

Se antes o temor era de uma recessão nos EUA, agora o medo é de que a economia esteja aquecida demais, trazendo nova pressão sobre a inflação americana.

Indicação de Galípolo acontece sob pressão da inflação e incerteza sobre juros

Contas públicas no Brasil

Enquanto a situação nos EUA oscila entre o otimismo e o pessimismo, a sensação com o Brasil segue mais amarga. Os investidores ainda se preocupam bastante em trazer o dinheiro para o Brasil por conta da situação (ainda sem resolução) das contas públicas.

O mercado tem dúvidas sobre a capacidade do governo de arcar com suas dívidas e dados mais recentes, divulgados nesta sexta, reforçam a impressão.

O setor público consolidado registrou um déficit de R$ 21,3 bilhões em julho, segundo o BC, muito maior do que a expectativa de mercado. Uma pesquisa da Reuters com economistas apontava para uma projeção de um saldo negativo de R$ 5 bilhões.

Os números do BC apontam que o saldo negativo do mês foi composto por déficits de:

R$ 8,6 bilhões do governo central

R$ 11,1 bilhões dos governos regionais

R$ 1,7 bilhão de reais de empresas estatais

Com isso, a dívida pública bruta do Brasil como proporção do PIB passou de 77,8% no mês anterior para a 78,5%. O governo apresentou no ano passado o novo arcabouço fiscal para contenção da trajetória da dívida pública, mas sua eficácia ainda não convenceu o mercado financeiro.

A situação se alinha com uma fala do presidente do BC, Roberto Campos Neto. Em evento nesta quinta (29), ele disse que a "parte mais difícil da economia brasileira é enquadrar o fiscal hoje. A despesa continua subindo acima da receita".

É por isso que o dólar não reage com intensidade aos momentos de otimismo fora do país. Para que os investidores fiquem mais confortáveis com o risco que o país oferece, precisariam ver juros mais altos que tornassem suas apostas mais rentáveis. Enquanto o estrangeiro percebe mais risco no Brasi, o dólar fica em patamares mais altos.

Entre outras coisas, dólar mais alto significa mais inflação. Muitas cadeias produtivas dependem de insumos importados e parte dos produtores nacionais aproveitam o momento para vender para fora do país.

Uma forma de corrigir o problema, portanto, é ter juros mais altos. E até mesmo Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência do BC no ano que vem, já reconhece que essa é uma possibilidade real.

"Vamos consumir os dados a cada reunião do Copom para poder tomar suas decisões. E abertos, com todas as alternativas na mesa de política monetária [sobre taxa de juros], para que a gente possa tomar sua decisão", disse Galípolo nesta semana.

Depois da última reunião do Copom, o BC informou que estar mais preocupado com a alta do dólar e seu impacto na inflação futura, e informou que "não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado".

O Copom também avaliou que há uma "percepção mais recente" dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, a regra para as contas públicas, junto com outros fatores.

E que isso "vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos (como o dólar e juros futuros) e as expectativas (de inflação, que estão em alta)". Por conta disso, argumentou que as projeções de inflação para os próximos anos têm subido, e que o cenário atual é marcado por mais riscos, sendo "desafiador".

Lula: "Se Galípolo disser que tem que aumentar os juros, ótimo"

Empresas brasileiras com bons resultados

Apesar de todos os riscos que estão no radar, as empresas brasileiras parecem não sentir os juros mais altos. Os resultados dos balanços do segundo trimestre foram interpretados por analistas como majoritariamente positivos, com destaque para o setor financeiro, que registrou os maiores lucros do trimestre.

Não apenas os balanços chamaram a atenção, como também o preço pelo qual as ações e a bolsa brasileira, de forma geral, estão sendo negociadas. O assessor de investimentos Danilo Paske, da Critéria, afirma que o indicador de preço sobre lucro (P/L) da bolsa estava em um dos menores patamares da história neste mês, cerca de 7 vezes o lucro.

Esse indicador mostra o quanto os investidores aceitam pagar por uma ação em relação aos lucros trazidos por ela. Quanto menor o número, mais barato está o ativo.

"Isso tem tornado preços atraentes para investidores voltarem a bolsa. Estamos nos menores patamares desde 2021(em P/L), enquanto os lucros das empresas têm batido recordes", diz Pake.

Em outras palavras: como os resultados estão vindo, o investidor mais "corajoso" ainda dá atenção às empresas brasileiras quando tira seu dinheiro dos ativos mais seguros com a melhora do patamar de juros nas economias desenvolvidas. O resultado são os recordes de pontuação.

22 empresas da bolsa brasileira tiveram lucros maiores que R$ 1 bilhão no 2° trimestre; veja a lista

Fonte: ECONOMIA

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