O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou de forma intensa nos últimos dias na construção de uma candidatura majoritária no Centrão — bloco informal que reúne parlamentares de legendas de centro e centro-direita — para o comando da Câmara dos Deputados.
Para isso, além de encontros com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Lula esteve com presidentes de partidos, pré-candidatos ao posto e ministros aliados com mandatos no parlamento.
Mesmo se comprometendo a não interferir na disputa ao dar o peso do governo a um ou outro pré-candidato, o trabalho de Lula foi evitar um racha no Centrão que obrigasse o governo a tomar partido mais à frente, contratando uma possível crise com a casa legislativa.
Para isso, Lula trabalhou lado a lado com Lira.
Congresso retoma atividades de olho na sucessão do comando da Câmara e Senado
Somente nesta terça-feira (3), Lula esteve presencialmente com Lira, Gilberto Kassab, presidente do PSD, Marcos Pereira, presidente do Republicanos e pré-candidato que abriu mão da candidatura para dar espaço a outro nome do seu partido, Hugo Mota.
Por telefone, Lula também consultou outros parlamentares e líderes.
O movimento de unificação do centro vinha sendo construído por Lira. A dificuldade era unir três candidaturas que cindiam os blocões parlamentares: Marcos Pereira, Elmar Nascimento (União) e Antonio Brito (PSD).
Pereira abriu mão e a expectativa é que Elmar também desista, já que sua candidatura ficou inviabilizada.
A candidatura de Brito deve seguir, em especial por força do presidente do PSD, Gilberto Kassab, que não atendeu os pedidos de Lira, Pereira e até para Lula não quis sinalizar com a desistência.
Marcos Pereira chegou a apelar ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freiras, que é do Republicanos, para interceder pelo apoio do PSD à candidatura do hoje vice-presidente da Câmara.
Sem o acerto com o PSD, a saída de Pereira foi abrir mão da disputa e apoiar um nome mais palatável no plenário da casa, o de Hugo Mota.
Nas reuniões ao longo do dia, Lula se mostrou reticente sobre a construção do nome de Hugo Mota.
Segundo relatos de quem acompanhou as reuniões, Lula ponderou que Mota era muito novo (34 anos) para presidir a Câmara, ainda com pouca experiência parlamentar.
Perguntou ainda sobre a ligação do deputado da Paraíba ao presidente do PP, Ciro Nogueira, e ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Coube a Marcos Pereira e ao ministro da Aviação, Silvio Costa Filho, enumerar apoios de Mota que foram decisivos para evitar derrotas do governo na Câmara.
Outros capítulos vão ter lugar até a eleição para a presidência das Casas legislativas.
O episódio que culminou nesta terça, entretanto, mostra que Lula está de volta às articulações politicas, como esteve em seus mandatos anteriores.
Cada vez mais próximo do Centrão, é o Lula pragmático que sabe que seu governo só dará certo se ele negociar com as forças políticas que estão aí, dando as cartas no Congresso. Muitas, aliás, velhas conhecidas do presidente da República.
- Esta reportagem está em atualização