Há cerca de dez dias, as famílias de pessoas com TEA foram surpreendidas com a notícia de que o atendimento especializado será interrompido. A Notredame afirmou que será inaugurada uma clínica exclusiva com mais de 20 salas, incluindo integração sensorial e equipes multidisciplinares, para atendimento. Descredenciamento de clínicas médicas durante tratamento do TEA prejudica pacientes
O descredenciamento de clínicas que atendem pacientes com Transtorno de Espectro Autista (TEA) pelo plano de saúde tem preocupado as famílias de Mogi das Cruzes.
Lorena, de 5 anos, e Alice, de 6, são exemplos dessa situação. A mãe das meninas, Carla Sabino Nobre, explica que as filhas passam por atendimento especializado três vezes por semana. Entretanto, com o descredenciamento, a dona de casa já não poderá mais contar com a clínica.
"A falta da terapia acaba prejudicando o desenvolvimento delas. O filho acaba ficando irregular na escola, em espaços de convívio público... Nós [responsáveis] ficamos ansiosos, choramos e não sabemos o que fazer".
Carla relata que os pais irão receber um posicionamento até o fim do mês, informando em qual local as meninas serão atendidas. Porém, o processo será trabalhoso, já que as crianças já não receberão mais o atendimento das terapeutas que já são acostumadas.
Em nota, a Notredame afirmou que prioriza a rede própria para garantir qualidade assistencial e acompanhamento mais assertivo dos resultados, além de um contato mais próximo com os pacientes. Destacou ainda que, em breve, será inaugurada uma clínica exclusiva com mais de 20 salas, incluindo integração sensorial e equipes multidisciplinares, para atendimento dos pacientes com TEA. Além disso, irá manter algumas clínicas específicas para suprir demandas.
Há cerca de dez dias, um grupo de mães e pais de crianças e jovens com TEA fizeram uma manifestação perto da sede do convênio médico. O protesto era contra o descredenciamento de algumas clínicas especializadas na cidade. De acordo com a ONG Resiliência Azul, cerca de 600 crianças fazem acompanhamento pelo plano de saúde e dependem do serviço para aumentar a qualidade de vida.
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"Na prática, estão fazendo um galpão para jogar nossos filhos para cortarem os custos. É muito mais uma questão financeira do que qualquer outra coisa. É um descaso absurdo, não dá nem para calcular o tamanho desse retrocesso", diz a presidente do Instituto Resiliência Azul, Dina Batista.
A dona de casa Flávia Regina Cordeiro Cavalari é outra mãe que também está preocupada com a situação. Flávia conta que o filho Nicolas, de 14 anos, recebeu o diagnóstico de TEA há dois anos. "Quando ele ainda estava fazendo a avaliação, a recepcionista da clínica disse 'olha, mãezinha... Se eu fosse você, já fazia um convênio para ele porque a senhora não vai aguentar, é muito caro o tratamento, o convênio dará um suporte para ele' e foi isso que nós fizemos".
Nicolas faz o tratamento há um ano, na mesma clínica. Entretanto, a unidade só irá receber o paciente até o final de agosto. A dona de casa conta que entrou em contato com a ouvidoria do convênio e eles afirmaram que mandariam uma lista de clínicas credenciadas, mas todas as clínicas que Flávia entrou em contato afirmaram não aceitar mais o convênio Notredame.
"Para mim também é algo recente, sabe? Como o diagnóstico foi tardio, eu também estou aprendendo, também estou buscando informações. É muito difícil para a gente, né?".
A Notredame informou, em nota, que cumpre os protocolos e prazos estabelecidos pela Agência Nacional de Saúde (ANS) e que segue à disposição das famílias para tirar dúvidas.
Já a Agência Nacional de Saúde Suplementar esclareceu que a lei permite o descredenciamento de prestadores da rede operadora, havendo regras diferentes para prestadores hospitalares e para os não hospitalares. Os prestadores hospitalares podem ser substituídos por outro equivalente, mediante comunicação prévia ao consumidor e à ANS com 30 dias de antecedência.
Já os prestadores não hospitalares, como consultórios, clínicas e laboratórios só podem ser descredenciados se forem substituídos por outro equivalente. A ANS afirmou ainda que não há necessidade de autorização, nem de comunicação à agência.
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