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Segundo IBGE, no Brasil, em muitos segmentos, a hora de trabalho de uma pessoa preta vale 40,2% a menos do que a de um branco. Leizer Pereira, engenheiro carioca criou a Empodera, uma plataforma que constrói negócios inclusivos e faz a conexão de jovens com organizações que valorizam a diversidade. Empresa de Mogi promove programa de inclusão para combater o racismo institucionalNeste domingo (20) é celebrado o Dia da Consciência Negra. No entanto, o racismo segue impactando o mercado de trabalho do Brasil. Um estudo divulgado pelo IBGE mostrou que trabalhadores pretos ganham 40,2% menos do que brancos por hora trabalhada. Em Mogi das Cruzes, uma empresa de tecnologia criou um programa de diversidade e inclusão para combater as desigualdades no mercado de trabalho.“O preconceito direto é muito difícil de acontecer, de você vislumbrar. Nesse período todo, nessa experiência na minha carreira profissional, eu não tive, assim, situações de preconceito explícito. Mas no nosso país acredito que o preconceito é seja velado”, disse Roney Glacio Silva Souza.“Eu sempre busquei como objetivo ser um profissional de referência, independente de ser negro, amarelo, branco, índio. Queria o destaque pelas minhas entregas profissionais. E o que eu sempre busquei foi isso: trabalhar pra que eu fosse reconhecido independente desses temas. Mas nunca deixei de lutar e atuar e mostrar o meu posicionamento e o meu orgulho de ser negro”, disse Maycon da Pureza Xavier.“Eu nunca sofri preconceito mas sim falta de oportunidade, principalmente em entrevista, sabe? Nem chegar na parte final da entrevista”, contou Carmencita Oliveira.Roney, Maycon e Carmencita não se intimidaram, pelo contrário, ficaram ainda mais fortes. Com objetivos diferentes, cada um deles buscou caminhos para se destacar no mercado profissional. Histórias que se cruzaram em uma empresa de tecnologia e inovação em Mogi das Cruzes.Roney tem 38 anos, e é gerente sênior. Maycon, de 43 anos, é diretor de planejamento. Já Carmencita, de 26 anos, é agente de atendimento.“Fiz algumas faculdades iniciais, eu fiz um curso de História durante três anos, a parte de licenciatura. Depois eu voltei mais pra parte de humanas, né? E eu sou formado em gestão de Recursos Humanos e atualmente eu faço MBA em gestão estratégica de negócio. Tudo isso voltado ao meu ramo de atuação hoje”, contou Roney.“A minha formação foi toda voltada para tecnologia. Eu fiz segundo grau técnico em processamento de dados, fiz faculdade de Análise de Sistemas. E, em função dessa habilidade em programar e conhecer sistemas, quando eu tive a oportunidade na área de planejamento a gente trabalhou muito em automações, em linhas de produtividade, na parte de relatórios, nas partes das atividades repetitivas das nossas funções, e isso me trouxe um grande diferencial”, contou Maycon.“Quando eu comecei aqui eu já estava cursando Biomedicina e por alguns contratempos eu fiquei um ano, um ano e pouquinho parada. Daí eu voltei e aí eu já estava aqui. Eu senti, na verdade, uma necessidade de eu aprimorar o meu atendimento ao cliente, foi por isso que eu busquei Gestão Comercial”, explicou Carmencita.Roney, Maycon e Carmencita ressaltaram a importância da inclusão de pessoas negras nos ambientes de trabalhoTV Diário/ReproduçãoA empresa tem um programa interno de diversidade & inclusão com várias ações para o desenvolvimento das pessoas, entre elas um comitê. Trabalha também conteúdos com história e entrevistas dos colaboradores com foco na diversidade, realiza treinamentos internos sobre política de nome social e tem até uma cartilha de orientação para todos os funcionários.“Dentro da empresa nós temos um comitê de diversidade que conta com
onde a participação ela é livre. As pessoas se candidatam à livre escolha e nós temos representantes de todos os grupos étnicos, pretos, asiáticos, pessoas LBGTQIA+. E esse comitê serve justamente pra divulgar e promover a questão da necessidade de ter um público diverso dentro das empresas hoje”, detalhou Roney.Dos 4 mil funcionários da unidade Mogi das Cruzes, 1.722 são negros, sendo 161 pretos e 1.561 pardos. Gente que se sente motivado em contar suas experiências, que aprende a se orgulhar das raízes. “Eu sou do Rio de Janeiro, de uma região muito pobre do Rio de Janeiro, Boaçu, em São Gonçalo. Já fiz de tudo um pouco na vida, trabalhei de pedreiro, fui auxiliar de cozinha, já trabalhei na praia vendendo picolé, vendendo esse tipo de coisa”, lembrou Maycon.“ Eu fui uma das primeiras netas da minha vó a cursar universidade. Aí depois já vem decolando os meus primos também. Eu sempre sofri bastante, eu acho, acredito que preconceito na época da escola, até mesmo por conta do meu cabelo: "ah, não dá pra ver a cor nem do seu couro cabeludo", sabe? Isso me marcou. E aí isso me trouxe mais motivação pra que eu pudesse alcançar meus objetivos”, contou Carmencita.“Eu venho de uma origem humilde, estudei em escola pública. Durante meu estudo fiz alguns cursos técnicos e tinha como objetivo sempre ser referência, desde pequeno. Sempre gostei muito de ler, gostava muito de estudar. Então, queria ser referência independente de onde eu tinha estudado, independente da família humilde, da minha origem humilde. Então, quis ser sempre referência pra outras pessoas”, disse Maycon.Esses depoimentos servem de inspiração num cenário que ainda enfrenta muitos desafios. No Brasil, em muitos segmentos, a hora de trabalho de uma pessoa preta vale 40,2% a menos do que a de um branco. No caso dos pardos, a diferença representa 38,4%. Os dados são da última pesquisa divulgada pelo IBGE, em agosto deste ano.Em média, a hora de trabalho do brasileiro vale R$ 15,23. Por cor, os valores médios são: brancos ganham R$ 19,22; pretos R$ 11,49; e pardos R$ 11,84.“Isso só reflete realmente o racismo estrutural, né? Essa dificuldade de ascensão profissional relacionado às pessoas negras. Às vezes até inclusão, em determinados mercados, às vezes você nem tem profissionais quase nas empresas de determinados setores. Então, tem 350 anos de escravidão, 134 de exclusão racial e a gente está aqui tentando desconstruir esse racismo estrutural e fazer com que as empresas valorizem essa diversidade de pensamento”, explicou Leizer Pereira.Para tentar mudar esse cenário de racismo institucional nas empresas, Leizer decidiu agir. O engenheiro carioca, nascido e criado na periferia do Rio de Janeiro, criou a Empodera, uma plataforma pioneira na construção de negócios inclusivos, preparação de carreira e conexão de jovens com organizações que valorizam a diversidade. A plataforma tem atualmente 65 mil jovens cadastrados, cerca de 10 mil acessos mensais e soma mais de 1.500 jovens contratados em grandes empresas.“Do lado da empresa, a gente ajuda a construir negócios mais inclusivos. Então, vai desenhar um programa de diversidade e inclusão, vai revisar as políticas. Um serviço de consultoria ali pra empresa poder decolar nessa jornada. E também tem o pilar de recrutamento e seleção, seja de vaga de estágio, trainee, mas vaga de média e alta liderança também. Uma solução completa”, contou o fundador e diretor executivo da Empodera.Assista a mais notícias sobre o Alto Tietê