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Muçulmana diz ter sido agredida em condomínio na Grande SP após ser vítima de intolerância religiosa

Caso aconteceu em Mogi das Cruzes.

Por Nova TV Alto Tiete em 21/12/2023 às 06:56:33

Foto: Reprodução internet

Caso aconteceu em Mogi das Cruzes. Vítima relata que, durante agressão, foi chamada de terrorista e tentaram arrancar seu hijab, véu utilizado por muçulmanas. Boletim de ocorrência foi registrado como lesão corporal. Muçulmana diz ter sido agredida após ser vítima de intolerância

Uma mulher de 35 anos afirma que foi agredida em um condomínio em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, por intolerância religiosa. O caso aconteceu no dia 15 de dezembro, mas ela registrou boletim de ocorrência apenas na segunda-feira (18). Imagens de uma câmera de monitoramento registraram o momento das agressões (veja o vídeo acima).

A vítima é muçulmana e, como tradição e costume da religião, usa o hijab, véu que é um dos preceitos do islã, além de seu masbaha, colar de oração, e uma vestimenta com sinal de devoção de fé. Em conversa com o g1, a mulher afirmou que foi insultada por ser muçulmana enquanto era agredida.

"Usaram de uma briga de criança para poder me chamar por várias vezes de 'terrorista'. Um homem me deu uma mata-leão, apertando meu pescoço no chão, depois me levanta pelo pescoço. Na filmagem, aparece meu masbarra de fazer oração que estava no meu pescoço fui arrebentado", disse.

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A vítima registrou um boletim de ocorrência no 4º Distrito Policial de Mogi, três dias após o fato. Porém, o caso foi registrado como lesão corporal, sem mencionar os insultos que ela sofreu.

Imagens de um vídeo que circula nas redes sociais mostram o momento da agressão. A vítima caminha com o filho pelo estacionamento do condomínio. Quando em um momento aparece uma mulher que segura no véu e a passa a agredi-la. Depois aparece um homem que tenta separar as duas e um outro que vê a briga e também tenta ajudar a apartar.

Em seguida, as duas são separadas e um dos homens fica com a vítima no chão com braço embaixo do pescoço dela. Eles levantam e o homem continua a imobilizá-la com o braço no pescoço. Ele só solta a mulher quando outro homem intervém.

O g1 pediu uma posição da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) do motivo pelo qual a ocorrência também não foi registrada como intolerância religiosa.

Em nota, a SSP informou que "o caso foi registrado como lesão corporal pelo 4º DP de Mogi das Cruzes. A vítima, de 35 anos, compareceu à delegacia e contou que foi agredida por uma vizinha após uma desavença ocorrida entre seus filhos no último dia 15, no bairro Jundiapeba, em Mogi das Cruzes. A vítima passou por atendimento médico. Na delegacia, ela foi orientada quanto ao prazo para a representação criminal".

Intolerância

O sheik Rodrigo Jalloul é da mesquita da Penha, na Zona Leste da capital, e onde Hadyja frequenta. Ele explica que desde a guerra entre Israel e o Hamas tem percebido que a intolerância religiosa com os muçulmanos tem crescido.

Segundo o sheik, Hadija teve sorte que a agressão foi gravada e ela tem uma prova da violência. "Ela foi se defender e o rapaz a agarrou pelo pescoço e a chamou de terrorista, quebraram o terço na mão dela e a agrediram. Nada justifica um homem daquela forma agarrar e bater. Ficou muito machucada. Isso veem crescendo, principalmente com a questão da guerra, Tem parcialidade da mídia mostrando lado da história com relação a Israel e declarando Hamas como grupo terrorista. Falar em nome da Palestina e não do Hamas, das mortes das crianças que acontece lá."

O sheik destaca existem outros casos de intolerância religiosa contra mulheres islâmicas. "Tenho caso de uma mulher, professora, que trabalhava em um colégio em São Paulo. E um dia a diretora disse para ela que para continuar tinha que tirar o véu. Que alguns pais não queriam uma professora muçulmana na escola. Ela perdeu o emprego e hoje trabalha em outra escola sem o véu.

A antropóloga Francirosy Campos Barbosa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP)/Universidade de São Paulo (USP) observa que as mulheres podem ser alvo mais frequente dessa violência por conta do uso do véu.

Ela explica que existem três bases para a constituição da Islamofobia: a xenofobia, a intolerância religiosa e o racismo.

"Mulheres muçulmanas que usam lenço (hijab, niqab) são racializadas. O sinal diacrítico do lenço, acaba por construir essa racialização. Neste sentido, é possível perceber a hijabfobia que está impregnada nos discursos e nas violências dirigidas às mulheres muçulmanas."

A professora publicou em novembro o III Relatório de Islamofobia no Brasil – Pós 7 de outubro. Ele aborda a Islamofobia no contexto do conflito Israel-Palestina.

O documento detalha que "Os eventos recentes, que tomaram proporção desmedida no Oriente Médio, dizimando a vida de mais de 14.500 mil palestinos e 1.200 israelenses, resultaram até a data da escrita do II Relatório de Islamofobia no Brasil – Pós 7/10/2023, pelo GRACIAS, em um evento gatilho (cf. Green, Todd. Fear of Islam: an introduction to islamophobia in the West. Minneapolis: Fortress Press, 2015), intenso para a comunidade muçulmana no Brasil."

Para a professora a violência contra a comunidade muçulmana sempre existiu. "Qualquer evento internacional que envolvam muçulmanos, vira evento gatilho no Brasil. Foi assim com 11/9; Charlie Hebdo, e não seria diferente diante da tragédia que acontece na Palestina. O nosso II Relatório de Islamofobia aponta isso, a violência já existia, mas a partir de 7/10/23 cresceu muito."

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Fonte: G1

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