Rafael Silva foi assassinado após notícias falsas de que ele matou cães se espalharem pelo bairro. O parlamentar Marcel da ONG é investigado por propagação de notícia falsa e incitação ao crime, mas afirma que não tem 'qualquer vínculo' com o assassinato do jovem. Rafael foi espancado até a morte após fake news ser divulgada
Arquivo Pessoal
O vereador Marcel Pereira da Silva (PTB), de Suzano, é investigado no caso da morte de Rafael dos Santos Silva, 22 anos, assassinado após correrem pelo bairro notícias nunca comprovadas pela polícia de que ele havia matado cães. Sete suspeitos do crime já foram presos.
O delegado responsável pelo caso, Rubens José Ângelo, informou ao g1 que o vereador, conhecido como Marcel da ONG, é investigado por suspeita de propagação de notícia falsa e incitação ao crime.
No mesmo dia da morte de Rafael, o parlamentar publicou um vídeo, sem falar o nome do jovem, afirmando que a pessoa a quem os moradores atribuíam as mortes dos animais tem vários vídeos em rede social dizendo que cachorro é "coisa do demônio" e ele chega a citar que o suspeito confessou as mortes. (leia mais abaixo)
A advogada do vereador, Graziella Salti Santana Bonini, disse que ele prestou esclarecimento à polícia e forneceu todas as "informações relevantes para a investigação do caso." (veja nota completa abaixo)
O rapaz foi agredido com pauladas e pedradas no corpo, cabeça e rosto no dia 17 de dezembro do ano passado, segundo investigações do Setor de Homicídios e Proteção a Pessoa (SHPP) de Mogi das Cruzes. Além disso, ele também foi atropelado. Segundo a polícia, a vítima sofreu um traumatismo cranioencefálico.
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O delegado disse que nunca encontrou os cachorros que supostamente foram mortos e que a investigação não comprovou que Rafael matou cães.
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O delegado disse ainda que a vítima sofria de problemas psiquiátricos, dizia que não gostava de cachorros e que eles eram impuros. "Ele deveria ter sido internado para um tratamento médico, e não uma morte em um homicídio de forma cruel, ainda mais com uma notícia falsa".
Vídeo
Em um vídeo publicado nas redes sociais, o vereador aparece em um bairro de Suzano e conta que recebeu a denúncia que três cachorros foram esfaqueados. Em seguida, ele apresenta um morador do bairro e diz que o animal dele foi o último a ser atacado.
O homem diz então que o cachorro foi encontrado durante a madrugada esfaqueado, e que foi atrás de quem teria atacado o animal, que disse apenas que cachorro era coisa do demônio.
O vereador diz, no vídeo, que a pessoa que está sendo acusada pelas mortes dos cães pela população tem vários vídeos em rede social dizendo que cachorro é coisa do demônio. "A gente foi atrás dele onde ele tá trabalhando, acionamos a GCM que está a caminho e ele já confessou que matou e que é coisa do demônio, animal é coisa do demônio. Se ele tem algum problema mental, se ele é usuário de droga, ele precisa ser encaminhado para delegacia, familiar tem que ser comunicado, deve ser tirado de circulação ou fazer algum tratamento", afirmou o vereador no vídeo.
Vereador é investigado em caso de morte de rapaz por fake news
Reprodução/ Redes Sociais
Por nota, a advogada do vereador, Graziella Salti Santana Bonini, informou que ele prestou esclarecimento no SHPP em 16 de fevereiro e ''que forneceu todas as informações relevantes para a investigação do caso".
A defesa destaca que Marcel da ONG permanece à disposição para contribuir para a elucidação dos fatos e "que não há qualquer vínculo, de qualquer natureza, com o falecimento de Rafael."
"O Vereador Marcel da ONG, por meio de sua assessoria jurídica, lamenta profundamente o ocorrido com Rafael dos Santos Silva, e expõe sua total indignação e repúdio ao ato de crueldade contra ele praticado. Sobretudo, se solidariza com seus familiares e amigos", diz a nota.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) disse que, no total, sete homens suspeitos pelas agressões foram presos após a morte do jovem por espancamento. Na ocasião do crime, "foi dito que a vítima teria agredido e matado dois cachorros, o que não foi comprovado", diz a SSP em nota.
Entenda o caso
A agressão contra Rafael aconteceu no dia 17 de dezembro do ano passado, na Estrada do Tanaka, no bairro Estância Americana, em Suzano. Um boato de que ele teria matado dois cachorros a facadas foi espalhado pelo bairro e também na internet. Seis pessoas foram presos no dia 30 de janeiro e um último no dia 6 de fevereiro.
"Rafael foi morto, foi espancado. Ele foi vítima de uma fake news. Uma notícia falsa. Uma vez que era divulgado pelas redes sociais, inclusive lives, de que ele teria matado dois cachorros. Fato esse que não se concretizou, não se confirmou. Sendo que populares, diversas pessoas o agrediram brutalmente", explicou o delegado.
Após o crime, Ariceli Santos, mãe da vítima, e Dóris Simãozinho, que era patroa de Rafael, saíram em defesa dele. Elas falaram que, de fato, ele parecia estar com um início de problemas psicológicos, mas que não seria capaz de matar os animais.
Leia na íntegra a nota do vereador:
"O Vereador Marcel da ONG, por meio de sua assessoria jurídica, lamenta profundamente o ocorrido com Rafael dos Santos Silva, e expõe sua total indignação e repúdio ao ato de crueldade contra ele praticado. Sobretudo, se solidariza com seus familiares e amigos. Noticia, ainda, que não há qualquer vínculo, de qualquer natureza, com o falecimento de Rafael.
Desta forma, sem hesitação, Marcel prestou esclarecimentos ao SHPP de Mogi das Cruzes/SP na última sexta feira (16), ocasião em que forneceu todas as informações relevantes para a investigação do caso.
Nesta oportunidade, parabeniza o trabalho célere realizado pela equipe de investigação do SHPP, liderada pelo Delegado Dr. Rubens Ângelo, e permanece à disposição para contribuir para a elucidação dos fatos.
Comunica, por fim, que não compactua com fake news ou outras ações que possam denegrir a imagem de pessoas".
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