CUIDADO: Uma narrativa pode ser construída para muitas coisas.
Algumas narrativas se firmam pelas evidências e fundamentos a que se referem. Uma narrativa, embora verdadeira, não deve ser usada de forma generalizada. Muitas acabam sendo descartadas por não terem sentido algum! Uma narrativa, verdadeira ou falsa, tem muita força a partir do momento que passa a ser usada com muita frequência. Justamente com a intenção de fixar na mente das pessoas para tirar proveito.
As pessoas começam a falar espontaneamente, sem pensar, até pra mostrarem que concordam, que entenderam, que sabem do assunto, e até pra não contrariarem os amigos. A narrativa acaba virando uma falsa verdade!. Existe uma narrativa que há muito se repete, que é dizer que o "setor público é ineficiente" e que o privado é eficiente.
São narrativas usadas de forma generalizada. O setor público é tão, ou mais eficiente que o setor privado em muitos casos, assim como o privado é tão ou mais ineficiente que muitos órgãos públicos. Mas, muitas pessoas acham que todas as empresas públicas são ineficientes. O que estou querendo dizer agora com isso? Estou querendo dizer que a nossa Secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, argumenta sempre, em todo lugar, que a tarifa só deve incorporar os investimentos já realizados porque no modelo atual da ARSESP, a tarifa é calculada com base num fluxo de caixa, que considera antecipadamente todos os investimentos e todos os custos dos próximos quatro anos, dando como resultado uma tarifa maior.
Narrativa que está sendo apresentada na mídia, nas audiências públicas, etc. Primeiramente precisa entender que os investimentos da Sabesp têm características de longo prazo, inclusive por questão de economia de escala. Os investimentos da Sabesp são realizados para atender o crescimento da população de um certo período. Não apenas da população do ano seguinte ao investimento realizado. Um investimento de extensão de quilómetros de rede de água, num período de quatro anos, exemplo citado pela Secretária, muitas novas moradias se ligarão à essa rede a cada ano, e portanto, o custo médio por moradia desse período diminui, requerendo assim uma tarifa média menor para cobrir esse custo. Num fluxo de caixa de quatro anos, a cada ano, são considerados novos investimentos, mas a lógica é a mesma de crescimento das moradias. Isto falando apenas do crescimento das moradias, pra redução da tarifa média, mas também são levadas em conta as melhorias de eficiência nos custos operacionais nesse período conforme consideradas nesses investimentos. Novas tecnologias, etc.
Esclarecendo que quando falamos de investimento no cálculo da tarifa, estamos falando apenas da remuneração e da depreciação desses investimentos. Assim sendo, essa narrativa precisa ser rebatida sempre, por ser falsa.
CLAUDIO GABARRONE: Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo (1977) e mestrado em Economia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2000). Atualmente é professor das Faculdades Integradas de Guarulhos e superintendente da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo, ARSESP. Já atuou como consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, em Projetos de Saneamento, Água, Esgoto e Drenagem, e, foi analista econômico e financeiro do Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento no setor saneamento no Brasil.