Conceição Alvino, ex-prefeita de Guararema, é uma das únicas mulheres eleitas que comandaram de forma definitiva cidades da região. Seis municípios nunca elegeram uma mulher para ocupar o cargo. Socióloga Marina Alvarenga acredita que o machismo é o fator preponderante para o número pequeno de participação feminina na política da região. Conceição Alvino é uma das poucas mulheres eleitas para prefeituras do Alto Tietê
Arquivo pessoal
"Embora tenhamos avançado bastante, ainda há um longo caminho a percorrer". É desta forma que Conceição Aparecida Alvino de Souza, a segunda mulher a ser eleita prefeita de Guararema e uma das únicas a comandar uma prefeitura no Alto Tietê, analisa a participação de mulheres na política regional.
"Fico muito contente em ver como as coisas mudaram ao longo dos anos. Quando comecei, as mulheres na política eram raras, quase que uma exceção. Hoje, vejo cada vez mais mulheres assumindo posições de liderança, não só nas prefeituras, mas também em câmaras municipais, assembleias legislativas, e em outros cargos na gestão pública", avalia.
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Embora a realidade da política tenha se transformado ao longo do tempo, a presença feminina no comando do Executivo da região ainda é pequena. De acordo com levantamento do g1, apenas Guararema, Ferraz de Vasconcelos, Poá e Santa Isabel já elegeram mulheres prefeitas na região.
Os municípios de Arujá, Biritiba-Mirim, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Salesópolis e Suzano nunca escolheram uma mulher para o cargo.
Trajetória de desafios
Conceição iniciou a vida na política em 1988, após a morte do marido Sebastião Alvino de Souza, que foi prefeito de Guararema entre 1970 e 1972 e 1977 e 1983. Foi em meio à dor da perda que ela aceitou a responsabilidade de liderar a cidade.
Segundo Conceição, o cenário do país era bastante diferente do atual quando ela assumiu o município.
"Era um período de transição política no Brasil, com a recente redemocratização do país, e muitos desafios econômicos. Guararema ainda era uma cidade pequena e com poucos recursos. Tive que enfrentar a falta de infraestrutura básica, como saneamento, pavimentação, e serviços públicos limitados. Naquela época, era preciso ter muita garra e determinação para superar as dificuldades e implementar projetos que atendessem às necessidades da população".
Conceição esteve à frente do município nos seguintes períodos: de 1989 a 1992; de 1997 a 2000; e de 2001 a 2004. Mas antes dela, outra mulher ocupou a cadeira de prefeita em Guararema: Deoclésia de Almeida Mello foi a primeira a comandar uma prefeitura de maneira definitiva no Alto Tietê, onde atuou de 1964 a 1967.
Para a ex-prefeita, a mudança mais significativa na esfera política dos anos 1980 para cá foi a visibilidade conquistada pelas mulheres.
"Elas estão provando que são tão capazes quanto os homens, senão mais, em muitos casos, de liderar com competência, empatia e determinação. Isso inspira as gerações mais jovens a também se engajarem na política", explica.
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Em Santa Isabel, duas mulheres estiveram no comando da Prefeitura: Maria Angela Sanches, de 1997 a 2000; e Fabia da Silva Porto, de 2017 a 2020.
Ferraz de Vasconcelos e Poá elegeram mulheres pela primeira vez para as respectivas prefeituras nas últimas eleições municipais, em 2020. Priscila Gambale (PODE) comanda Ferraz de Vasconcelos e é candidata à reeleição, e Márcia Bin é a prefeita de Poá, mas não concorre no pleito de 2024.
Desigualdade de gênero
Para a psicóloga e socióloga Marina Alvarenga, o machismo é o fator preponderante para o número pequeno de participação feminina na política da região. No entanto, ela acredita que a questão de gênero é capaz de explicar melhor esta realidade dentro dos partidos políticos.
"A maioria dos partidos tem homens em sua direção e, muitos, perpetuam-se há anos como 'lideres', apesar de cerca de metade dos filiados serem mulheres. Então, a manutenção de uma estrutura masculina dificulta que novos nomes sejam contemplados para a disputa e sejam apoiados de fato pelos partidos e as mulheres acabam ficando fora. Sem apoio sem verba de investimento nelas, fica difícil uma disputa equilibrada. Se analisarmos, veremos que muitas mulheres são usadas "como laranja" como chamariz do voto feminino, mas não recebem apoio nem financeiro, nem político para atuarem e se elegerem. Considere-se ainda que o eleitor, mesmo feminino, é conservador", justifica.
Recentemente, o Senado aprovou e promulgou a PEC da Anistia, que livra partidos políticos de multas por descumprimento de regras de cotas de raça e gênero em eleições passadas. Alvarenga acredita que políticas públicas têm um longo percurso para se concretizarem.
"É preciso fomentar ações afirmativas que intensifiquem o debate e promovam mudanças legislativas que fortaleçam a representatividade das mulheres e o combate à violência de gênero na política, que se manifesta de forma discriminatória, mas também, muitas vezes é velada. É preciso enfrentar o preconceito e não escamoteá-lo. Eu só enfrento o inimigo se o reconheço, porque travestido de "parceiro" oculta a luta. É preciso conscientização".
Apesar de avanços nas últimas décadas em relação à discussão de gênero na política institucional, Conceição afirma que ainda é preciso de mais ações para a transformação de prefeituras e câmaras da região e do país.
"Acredito que estamos no caminho certo. O que precisamos agora é de mais ações que incentivem a participação feminina. Vejo as mulheres mais jovens, com suas ideias e energia, como a chave para transformar a política brasileira em algo mais inclusivo e representativo, influenciando as decisões que afetam a vida de todos", finaliza Conceição.
Fábia Porto, Maria Angela Sanches, Priscila Gambale e Márcia Bin são algumas das mulheres eleitas prefeitas no Alto Tietê
Montagem/g1
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