Prefeitura de Mogi das Cruzes informou que a criança teve acompanhamento pelo Hospital Municipal, e todos os protocolos médicos foram realizados. Médico neurocirurgião esclarece dúvidas sobre meningite. Mãe relata negligência médica após morte do filho por meningite em Mogi das Cruzes
A meningite é uma doença perigosa e para ser diagnosticada é preciso um exame especifico. Em alguns casos, o paciente demora para receber o tratamento adequado, foi o que aconteceu com uma criança em Mogi das Cruzes.
As lágrimas da dona de casa Tatiane Santos são de saudade. Há cerca de um mês, ela perdeu o filho de 1 ano e 2 meses. Segundo a mãe, o menino não tinha nenhum problema de saúde e sempre foi uma criança esperta e alegre.
No atestado de óbito, uma das causas foi a meningite. Entretanto, para Tatiane, a história poderia ter sido diferente se houvesse um atendimento melhor na unidade de saúde Vagalume, em Mogi das Cruzes.
" A gente entrou na sala, ela sentou, examinou ele por cima da camisa, e ela não deitou ele, praticamente não examinou ele. Ela achou um diagnóstico que ela pensou e pronto. Ela falou que seria o estômago dele, que seria uma bactéria que desceu para o estômago, e estava causando aquele mal-estar. Eu fiquei debatendo com ela, falei 'mas como assim, ele vomitou pela manhã e estava com febre de madrugada', eu achei estranho".
"Eu sai da sala dela, peguei alguns medicamentos no Vagalume e falei para atendente se teria como eu passar por uma segunda avaliação médica, porque a médica não examinou meu bebê. Aí essa moça falou com outra moça, e essa moça veio até mim e disse 'você acabou de sair do consultório médio, isso é antiético, a médica ainda está no local'", conta.
Segundo a mãe a orientação da médica era voltar só depois de 72 horas. Sem o filho nos braços, o que resta é a saudade e a revolta. "Você leva no médico para ajudar a socorrer seu filho porque ali não era apenas um número, era uma criança, é uma vida. É importante para uma mãe", lamenta.
"Eu saí correndo na rua com a minha roupa caindo, sem chinelo, saí gritando pedindo socorro. O rapaz disse para eu ir no Jardim Camila. Lá, colocaram o meu filho no oxigênio e fizeram de tudo para salvar meu filho, as enfeiras ajudaram a socorrer ele, ele não tinha reação".
"Transferiram ele para Brás Cubas, não tinha UTI, montaram uma sala de emergência, tiraram o líquido da coluna para diagnosticar o que era. Lá o meu filho foi fazer tomografia, ainda ele desceu da tomografia e falou uma palavrinha, ainda última palavrinha eu ouvi ele falando, saindo da boquinha dele. Aí meu filho foi entubado e não voltou mais ", relata.
Em nota a Prefeitura de Mogi das Cruzes informou que a criança teve acompanhamento pelo Hospital Municipal, e todos os protocolos médicos foram realizados, e que a transferência para o hospital de referência foi feita via Siresp (Regulação de Vagas-Cross).
Sobre o atendimento no Vagalume, a Prefeitura disse ainda que o caso está sendo apurado.
O infectopediatra e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, Marcelo Otsuka, explica que a meningite pode acontecer em qualquer idade, mas que o diagnóstico é mais difícil, em crianças ou idosos.
"Crianças com poucos meses, 1 ou 2 anos de idade, por exemplo, pode não ter nenhum sintoma clássico de meningite, pode ser só febre, mal-estar... e conforme a idade vai subindo, começam a aparece mais os sintomas clássicos da meningite: vômitos, dor de cabeça, rigidez de nuca, mal-estar. Sempre que há suspeita, a confirmação deve ser feita por meio da coleta do líquor, que é o líquido da espinha", explica.
Para o especialista, até que saia o resultado, é importante que o paciente comece o tratamento que pode mudar de acordo com o resultado do exame.
"Nessas situações, a gente institui o tratamento antes mesmo do resultado do líquor. Dependendo do resultado, esse tratamento pode ser suspenso ou, por outro lado, pode ser mantido, e até mesmo ampliado", conclui.
Ainda transtornada por causa da perda do filho, Tatiane mudou de endereço e guarda apenas alguns brinquedos e roupinhas da criança. Mesmo assim, ela conta que está difícil conviver com a dor que só aumenta.
"Eu me sinto até culpada, porque eu não sabia o diagnóstico, eu queria saber o que era. Eu até pensei 'se eu falasse com a minha sogra, ela ia saber mais do que a médica'", diz.
Especialista esclarece dúvidas sobre meningite
Segundo o neurocirurgião Guilherme Prado, existem protocolos rígidos que expõe para o médico toda a rotina que precisa ser feita para que de uma maneira linear e rápida, elimine outras doenças.
"A primeira rotina de pronto-socorro descarta por exemplo as infecções de urina, infecções de pulmão, de ouvido, de garganta [que são muito prevalentes no inverno], e dentre as normalidades dessas situações, a hipótese de uma meningite com uma criança com febre e progressivamente piorando sempre tem que ser ponderada", explica.
Crianças e idosos são dois públicos que chamam atenção quando se trata de meningite. "Na criança, abaixo de 1 ano, principalmente por não falar, a irritabilidade pode ser às vezes um sintoma de abertura do quadro. Não se alimentar de maneira progressiva, é um problema também. Irritabilidade, sonolência, um lado do corpo começa a ficar paralisado, em algumas crianças a visão pode ficar dupla".
"No idoso a alteração de estado mental segue a mesma rotina. As principais causas do idoso sendo infecção de urina e pulmão, descartadas isso, as doenças infecciosas, o sistema nervoso central sempre tem que ser descartadas", esclarece.
De acordo com neurocirurgião, quando iniciado o tratamento há chances de cura. "Infelizmente existe uma alta mortalidade, tanto nas meningites bacterianas, quanto nas virais, e em muitos pacientes o índice de sequelas é muito alto. A mortalidade é em torno de 5% a 25% dependendo da natureza da meningite. No caso da alteração de sequela, até 30% dos pacientes podem ter algum grau auditivo, cognitivo e intelectual".
"A meningite é transmitida principalmente por gotículas aerossóis que ficam suspensos no ar e entram em contato conosco pela cavidade nasal e bocal. Não obrigatoriamente todos os que têm contato desenvolve a doença, porém a transmissão é via área, exceto nos casos de cirurgia que podem ter algumas complicações de meningite, e no caso da infância, principalmente na parte neonatal que pode ter a contaminação por bactérias presentes na mãe, inclusive, infecções do sangue passando com meningite".
"Os sintomas principais são febre, dor de cabeça, sonolência e convulsão, normalmente sempre associados".
"As principais meningites são as virais. São vírus respiratórios que tem a contaminação da cavidade nasal e, acesso ao cérebro por contiguidade. Enquanto as bactérias, principalmente a Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Neisseria meningitidis, são os mais comuns causadores da meningite bacteriana".
"Houve uma queda significativa após a introdução da vacinas, principalmente a variante dos Haemophilus, e cada vez mais se estuda sobre isso, então a prevenção é sim importante, mas principalmente os hábitos de higiene, e os cuidados de aglomerações, ainda mais do inverno que é quando tem o aumento", explica.
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